domingo, 19 de dezembro de 2010

O Yoga e a cegueira da humanidade


Depois que me tornei praticante de yoga, ao passar por qualquer tipo de experiência tento ver as coisas sob a ótica de alguém que tenta colocar em prática os valores deste estilo de vida.

Tive o privilégio de assistir a uma peça de teatro, na qual alguns dos valores éticos que regem, ou ao menos deveriam reger a conduta da humanidade são colocados em discussão.

Baseada na obra literária de José Saramago, a peça “Ensaio sobre a Cegueira” fala de um surto de “cegueira branca” que atinge um vilarejo e rapidamente se alastra, afetando a todos.

Admito que não sou um grande leitor de outras coisas, atualmente, que não estejam diretamente ligadas ao meu estudo de yoga e vedanta, mas sempre que surge a oportunidade de ampliar meus horizontes não desperdiço a oportunidade, pois sei que logo traço um paralelo destas obras de literatura com meus estudos de yoga. Noto, inclusive, que no fundo os questionamentos são sempre os mesmos, apenas com focos ou nomes diferentes. É aí que percebo o quanto podemos aplicar tudo isso ao nosso cotidiano.

Para isso acabei convidando minha amiga, também praticante de yoga e atriz do espetáculo em questão, para escrevermos este texto a quatro mãos, com o objetivo de enriquecer ambos os lados da discussão.

A Ética e os Valores

O primeiro passo de um aspirante a yogi deve ser compreender e absorver certos valores éticos de conduta. No astanga yoga veremos isso através dos yamas e niyamas, os primeiros dois degraus desta longa via.

Yamas e Niyamas são as disciplinas dos órgãos da ação e da percepção e são comuns ao mundo inteiro. Não são especificamente indianas, assim como não se ligam apenas ao yoga, afinal ser um aspirante a yogi deveria ser sinônimo de ser um aspirante a melhor ser humano.

Ao falar de valores e ética trataremos de conceitos e princípios que se aplicam não somente a nós mesmos, mas principalmente na relação com tudo e todos à nossa volta. Na Enciclopédia Wikipedia, da web, a palavra Ética é descrita da seguinte maneira:

“A palavra ética é originada do grego ethos, (modo de ser, caráter) através do latim mos (ou no plural mores) (costumes, de onde se derivou a palavra moral). Em Filosofia, Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade.”

Já moral, define-se como um conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes e valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. Por isso moral e ética não devem ser confundidos: enquanto a moral é normativa, a ética é teórica e busca explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns.

Deve-se deixar claro, porém, que etimologicamente ética e moral são expressões sinônimas, sendo a primeira de origem grega, enquanto a segunda é sua tradução para o latim.

Em Filosofia, o comportamento ético é aquele que é considerado bom e, sobre a bondade, os antigos diziam que: o que é bom para a leoa pode não ser bom à gazela, e o que é bom à gazela, fatalmente não será bom à leoa. Este é um dilema ético típico.

Desta forma, o objetivo de uma teoria da ética é determinar o que é bom tanto para o indivíduo como para a sociedade como um todo. Os filósofos antigos adotaram diversas posições na definição do que é bom, sobre como lidar com as prioridades em conflito dos indivíduos versus o todo, sobre a universalidade dos princípios éticos versus a "ética de situação". Nesta, o que está certo depende das circunstâncias e não de uma lei geral. Já a bondade é determinada pelos resultados da ação ou pelos meios através dos quais os resultados são alcançados.

Ao viver em sociedade o homem convive com outros homens e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão central da Moral e da Ética, afinal a ética é o julgamento do caráter moral de uma determinada pessoa. Ser ético é não só fazer algo que te beneficie, mas também algo que, no mínimo, não prejudique o "outro".

A Ética e o Hatha Yoga

Um yogi logo começa a entrar em contato com estes princípios quando instruído por seu professor. E, ainda mais, quando entra em contato com suas próprias ferramentas de trabalho: o seu corpo e a sua mente.

Quando nos colocamos em uma prática de hatha yoga logo percebemos que nosso corpo se torna nosso instrumento para o aprendizado através da experiência. O que nos evidencia a importância de ter um corpo saudável e forte para praticar.

A princípio estas não seriam premissas para uma prática física de yoga mas, como veremos, um dos objetivos de ser um yogi é criar uma condição de extremo conforto para si mesmo, para que a prática seja proveitosa em todos os aspectos. Como já dizia B.K.S. Iyengar, “visto que o corpo é o local onde habita o Ser, ele deve ser tratado como o templo da alma”.

No tantrismo o corpo humano adquire importância jamais alcançada na história espiritual da Índia. A saúde, a força, o interesse por uma fisiologia assemelhada ao cosmos e implicitamente santificada são valores védicos e não pré-védicos. O tantrismo, porém, leva a conseqüências extremas a concepção de que a santidade só é realizável em um “corpo divino”.

Abolidos o pessimismo e o ascetismo upanishadicos e pós-upanishádicos, o corpo não é mais “fonte de sofrimento”, mas o instrumento mais seguro e completo que o Homem tem à disposição para “conquistar a morte”. E, visto ser possível obter a liberação a partir desta vida, o corpo deve ser conservado o maior tempo possível em perfeitas condições, precisamente para facilitar a meditação (Gheranda-samhita, I,8).

Nesta apreciação enfática do corpo humano e de suas possibilidades podem se distinguir pelo menos duas orientações distintas, mas convergentes:

1- a importância dada à experiência total da vida como parte integrante da sadhana (prática)

2- a vontade de dominar o corpo para transformá-lo em um “corpo divino” – posição sobretudo do hatha-yoga.

Tal domínio deve começar tendo como base um conhecimento preciso dos órgãos e suas funções, afinal “de que maneira os yogis que não conhecem seu corpo como [sendo] uma casa com uma coluna e nove portas, e presidida pelas cinco divindades tutelares, poderão atingir a perfeição?” (Goraksa sataka, 14).

O que se busca sempre é a perfeição e esta não é de ordem higiênica e nem atlética.

A palavra Hatha literalmente significa esforço violento, violência, e este nome surge por que a prática (visão tântrica) é vista de uma outra maneira. É necessário um determinado esforço para a transformação de um corpo ordinário em um corpo divino. É preciso Tapas, um desejo ardente de transformação. Este é o combustível que guiará o aspirante até seu objetivo.

Entretanto, além de Tapas, buscamos realizar também o valor de ahimsa, a não-violência. Ora, se hatha significa violento, então como aplicar ahimsa à prática? É preciso encontrar um ponto médio entre estes dois valores. Este ponto teria o nome de bom-senso, algo que surge da tua capacidade de fazer escolhas ou do seu livre-arbítrio.

Como em qualquer prática física, um praticante de hatha yoga está sujeito a lesões. Da mesma forma que se você caminhar sem atenção pela calçada pode sofrer um acidente, fazendo uma prática que requer um esforço físico você estará sujeito a se machucar. Se acontecem acidentes no yoga, a culpa não é do yoga, mas da agressividade ou da impaciência do praticante.

É comum ver centenas de pessoas medirem seu progresso na prática porque agora conseguem colocar as mãos no chão com os joelhos esticados. Outros se dão um prazo de tantos meses para colocar o pé atrás da cabeça ou ficar de cabeça para baixo.

E eu continuo me perguntando... Por quê? O que aconteceu comigo depois que fiz estas coisas? Garanto que continuo sendo a mesma pessoa, nada mudou. Quando me forcei, fui uma pessoa machucada e frustrada por não conseguir. No momento em que entendemos o “espírito da coisa”, aí sim podemos nos tornar pessoas mais felizes.

Não pratico yoga para me tornar um melhor contorcionista, nem para ficar com o corpo mais bonitinho. Novamente nos vemos aqui envoltos em uma prática repleta de valores. Como colocar tudo isso em cima do tapetinho? Como levar isto do tapetinho para a vida?

A que ponto chegamos

“Um valor é um valor para mim somente quando vejo o valor do valor como valioso para mim”. É assim que Swami Dayanandaji define um valor. Devemos primeiramente reconhecer a importância dos valores e somente então será possível colocá-los em prática na nossa vida.

Na história de Saramago fica evidente nossa capacidade de não enxergar nossas reais necessidades e assim acabamos por nos violentar e aos demais. Na peça, diante das condições em que se encontram, os personagens são obrigados a estabelecer novos códigos de conduta. Ao se perceberem cegos, famintos e sem as condições básicas de higiene, precisam descobrir uma nova maneira de se relacionar.

Ali estão todos cegos, são todos iguais. Se alguém era rico ou pobre antes desta cegueira, não faz a menor diferença, igualam-se todos nesta situação. Não podem mais ver se a pessoa que está ao lado é loira ou morena, bonita ou feia, homem, mulher ou qual o nome que ela tem. Saramago inclusive não dá nome aos personagens. São pessoas, apenas: o médico, o primeiro cego, a mulher de um, a mulher do outro.

Como é possível enxergar o outro se não o vejo? Somos obrigados a ultrapassar o mundo do concreto, do nominável. Numa situação como esta, o que importa é a necessidade de sobreviver e, diante disso, o que vale mais, um punhado de dinheiro ou um prato de comida?

Presos aos valores materiais, alguns cegos começam a exigir “peças de valor”, dinheiro, jóias em troca de comida. Depois, partem ainda a um extremo de violentar sexualmente as mulheres que ali se encontram.

Então me pergunto o que eles conseguem com isto, já que continuam confinados ali ainda cegos e presos em sua própria ignorância? Um cego que violentou uma mulher, com certeza não conquistou o amor desta e muito menos se realizou como ser humano tentando suprir sua carência de amor. E o dinheiro roubado, que função poderia ter naquela situação?

Cegados pelo nosso ego, às vezes nos violentamos demais (e aos outros) por objetivos que não trarão mudanças em nossas vidas. Como fazer para não passar por cima dos valores que realmente têm valor para nós?

Num momento em que a humanidade vive dias de insegurança e violência, em que acontecimentos movidos pelo ódio, pela intolerância e pela ambição se sucedem em várias partes do mundo, invadindo direta ou indiretamente nossas vidas, quais são os verdadeiros valores que devem nortear nossas ações? Em nosso cotidiano, quantas vezes nos deparamos com situações em que já não conseguimos distinguir o certo e o errado? Não conseguimos sequer definir onde está o Dharma.

Fazendo uma ligação com o que Patanjali diz nos Yoga Sutras:

Tada Drastuh Svarupe avasthanam, ou seja, aquele que vê (a si mesmo), se estabelece em sua própria natureza.

Neste momento somos colocados em pé de igualdade.

Assim como nos ensinamentos da Bhagavad Gita, somos todos um só. Nem mesmo um só “Deus”, mas somos somente “Deus” ou tudo o que existe é “Brahman”, se preferir. Mais uma vez, é apenas questão de dar uma nomenclatura àquilo que não tem nome. O que importa é o ser humano. Ou melhor, a sua essência, onde ele simplesmente é.

Ainda na Bhagavad Gita, Krishna diz a Arjuna que a partir do momento que se alcança o conhecimento, é impossível retornar à ilusão de um mundo apenas palpável, concreto e limitado. Expandimos os limites e ao enxergar, pagamos um preço por isso. O preço de quem olha e vê, o preço de quem sabe que a realidade é maior e, portanto, torna-se impossível satisfazer-se com o menor.

“Tomar consciência é atribuir um sentido, e isso implica desocultar o sem-sentido de certas coisas e evidenciar o sentido de outras, significa perceber-se como sujeito, com seus limites e muros e com suas janelas e portas por onde ver mais longe e sair para espaços mais abertos, significa negar e afirmar, fazendo escolhas, escolhendo entre valores, causas e companhias.” (José Saramago)

A partir do momento que eu enxergo o que me falta, me torno incapaz de permanecer no lugar onde estou. Torna-se necessário seguir adiante, romper o que tiver que ser rompido. A partir do momento que abro espaço para enxergar novas coisas, acaba o encanto de as coisas poderem ficar intactas. A realidade se abre, se mostra. O mundo amplia-se e vai além. A minha noção de “eu” torna-se outra.

Avidya (ignorância) – o maior dos obstáculos

Ao final da peça todos voltam a enxergar. A epidemia de cegueira acaba e todos os personagens simplesmente voltam a ver. Mas será? Será que ao findar esta cegueira de luz não voltamos todos para as trevas?! Será que ao recuperarmos a visão não voltamos imediata e automaticamente para o mundo das formas, do que já se conhece? Será que este foco de luz que Saramago coloca sobre a humanidade nos torna capaz de rever nossos conceitos?

É muito mais fácil seguir uma vida confortável, onde tudo já é conhecido e combinado, do que perceber o que é que falta, o que é que sobra, conseguir olhar para si e saber respeitar o que se precisa. Dá medo de sair de onde conhecemos, de enxergar o que não sabemos se estamos preparados para mudar. “O medo cega”, diz Saramago.

A cegueira branca desta história é uma cegueira que nos iguala, que nos faz enxergar quem somos. É como um foco de luz diante de todos os valores deturpados de uma humanidade que, ao ficar sem olhos, não sabe ver. Não sabe como agir, como ser, como viver. Ao tirar um de nossos principais canais de ligação com o mundo, Saramago nos obriga a estabelecer um outro contato com o mundo. Ao nos privar da visão, nos obriga a olhar com a alma.

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, esta coisa é o que somos”.

Pois bem, Saramago está certo. Assim como Patanjali e Krishna, na Bhagavad Gita. Ao final – e ao princípio! - somos todos iguais, somos todos sem nome.

Nós simplesmente somos.

Texto de Marina Palha, atriz e praticante de yoga e Bruno Jones

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Achado no Facebook

Não posso dizer que a citação realmente pertence ao David Frawley, pois a encontrei no Facebook.
Mas concordo 100% com ela.

‎"Existem dois tipos de yoga, o yoga tradicional e o yoga moderno.
O yoga tradicional é moksha, liberdade do sofrimento, do condicionamento, meditação com base no conhecimento, se conectar com a parte mais divina que você é.
O yoga moderno é basicamente asanas, um pouco de pranayama, e alguns mantras bacanas".

D. FRAWLEY

domingo, 12 de dezembro de 2010

The litigious yogi - Bikram Choudhury is trying to do to yoga what McDonald's did to food



ACCORDING to Patanjali, the great sage of yoga who lived in the second century BC, yoga is about bringing the mind to complete stillness and thus reaching liberation from mental delusions such as anger, egoism and greed. This may not be immediately evident if you are in a yoga class taught by Bikram Choudhury. Bikram—he prefers to go by his first name only—teaches a series of 26 postures in a room heated to 41 degrees Celsius, with mirrors on all sides for better views of the sweaty bodies. “What is yoga? Shit together,” he preaches through his microphone. “Bullet proof. Sex proof. Fire proof. Wind proof. Everything proof,” he says on another occasion. “If you can take my shit, one day you will become a better person.”

Bikram is to the yoga world what fast food is to the culinary world. He is supremely responsive to the needs of the modern, western marketplace (15m people practice yoga in America alone), and thus popular with the yoga “masses”. And he is looked down upon by yoga's gourmets, who tend to practice the Iyengar or Ashtanga style of yoga. Like B.K.S. Iyengar and Pattabhi Jois, two fellow Indians who are associated, respectively, with the gourmet schools, Bikram (www.bikramyoga.com) has found celebrity and wealth through yoga. In fact, judging by his fleet of Bentleys and Rolls-Royces and his villa in Beverly Hills, Bikram probably has the edge over his upmarket rivals.

His main claim to controversy, however, is that he seems determined to take the analogy to fast food to its logical extreme. Just as McDonald's franchises its branches, Bikram wants to franchise his style of yoga to the more than 900 studios around the world that were started by his former students. To this end, he has trademarked phrases such as “Bikram Yoga”, “Bikram's Basic Yoga System”, and so forth. And he claims copyright not only for his books and videos (where copyright is anyway automatic), but also for his “dialogue”—ie, what is in fact the teacher's monologue in a Bikram class—and for the 26-pose sequence itself.

At first, this intellectual-property strategy seemed to be just another of Bikram's wry jokes. Nothing of the sort had ever been attempted before. The closest precedent was an attempt in 2000 by a teacher of Pilates—a popular fitness method invented in 1914 by a German prisoner-of-war, Joseph Pilates—to enforce the trademark “Pilates” against another studio that used the name. The judge rejected that claim, ruling that Pilates had become a generic name, and thus not one entitled to protection.

Undaunted, in 2002 Bikram ordered his lawyers to start sending out “cease-and-desist” letters to Bikram studios, demanding that the owners stop infringing on his alleged property and start paying him money. Last year, Bikram made an example and sued one studio south of Los Angeles. That suit ended last June with a private settlement, but Bikram claimed a big victory on his website and ratcheted up his threats to all the other “impostors” out there. Suddenly, Bikram teachers everywhere, most of whom run small “mom-and-pop” businesses that make an unglamorous living, got scared.

A number of them responded by banding together in an alliance called—echoing the software battle of Linux against nasty Microsoft—Open Source Yoga Unity (OSYU) and hired their own lawyers. OSYU's stated purpose is to fight for the idea that “Yoga cannot be owned, transferred, franchised, trademarked or copyrighted.” In April, OSYU scored an initial victory against Bikram in a federal court in California, establishing its right to represent studio owners and preventing Bikram from going after them one by one before the legal concepts are clarified.

Bikram says that he is not, in fact, trying to franchise or copyright yoga as such, only his specific sequence of postures and way of teaching it. Thus he would admit that all the constituent parts of Bikram Yoga—the “asanas” (postures) and “pranayama” (breathing techniques)—have been in the public domain for about 5,000 years, since they were first painted on to caves and temple walls in India. But he argues that these asanas and pranayama are like musical notes or dance steps—public property to begin with, but private property once they form part of a song or ballet. Just as “Swan Lake” is no longer “Swan Lake” if you change its notes and steps, Bikram Yoga no longer delivers its health benefits, he claims, if you mess with his precise formula.

It should be said that, as with fast food, these alleged “health benefits” are themselves a matter of controversy. Some doctors, as well as many gourmet yogis, worry that the extreme and artificial heat in Bikram studios can lead to dehydration, over-stretching or worse. But put this debate aside for the moment, and give Bikram the benefit of the doubt.

Patently absurd

His problem now becomes one of legal logic. If Bikram Yoga is indeed, for legal purposes, akin to “Swan Lake”, Bikram might actually have a case. But Bikram himself does not claim that his classes are performances with inherent artistic or expressive value; instead, he boasts that their purpose is health. In legal jargon, that may make Bikram Yoga a “functional” process, which is an area covered by patent law, not copyright. Bikram has no patents and, even allowing for the eccentricities of America's Patent Office, no hope of getting any.

Bikram's licensing of his sequence, says Jim Harrison, a lawyer for OSYU, is thus less like selling the rights to a song and more like lecturing about the “Kama Sutra” and then trying to charge couples a fee every time they have sex in one of the positions. Or, returning to that fast-food metaphor, like Bikram writing a new recipe for hamburgers and then showing up at barbecues to charge the people flipping the burgers. Intellectual-property law is crucial to economic success. But extending it to yoga will—The Economist's spiritually enlightened, physically limber journalists hope—prove too much of a stretch.

Fonte: The Economist - http://www.economist.com/node/2765973

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Yoga, o quê? Para quê? Como? Para quem?

Yoga! Palavra que diz tanto a muitos e tão pouco a muitos mais. O que vem a ser o Yoga no seu sentido mais tradicional e profundo é algo que só o tempo, prática e estudo conseguem revelar.

O Yoga não é, certamente, fazer contorcionismo, não é uma ginástica exótica, nem levitar. O Yoga tampouco é uma técnica ou uma prática. Tudo isso são visões distorcidas e redutoras do Yoga. O Yoga é uma cultura que se estabelece numa visão da nossa natureza e num modo de vida coerente com essa visão. Neste sentido o Yoga é um meio e um fim em si mesmo. Por entre toda a diversidade humana é claramente perceptível que todo o ser humano busca o mesmo – felicidade. Não apenas nós, mas também os demais seres sencientes buscam o mesmo: afastar-se do sofrimento e perseguir e manter o prazer e felicidade. Enquanto animais e plantas se bastam com a segurança e a satisfação das necessidades básicas para serem absolutamente completos, nós não somos assim. Quando olho para as minhas cadelas não vejo que a Kali, que é negra, olhe para a Cuca, que é loira, e pense: Ah quem me dera ter assim o pelo mais longo e loiro… quem sabe devia pintar ou fazer umas madeixas…ainda por cima já estou cheia de brancas no focinho. É horrível! Por outro lado, a Cuca, que é menos de metade do tamanho da Kali, não pensa: quem me dera ser mais alta, correr com aquela delicadeza e elegância da Kali…acho que vou começar a andar em bicos de pés, quem sabe inventam qualquer coisa para me facilitar andar assim ou até uma operação…

Já o ser humano dotado de livre arbítrio, da capacidade de se auto-julgar, não se basta com a segurança e necessidades básicas para ser feliz. Queremos sempre mais! Primeiro a TV rectangular de grande ecran! Depois vem o plasma e o lcd e aquela mesma TV que me fez feliz em tempos tornou-se obsoleta, o que antes era bonito, tornou-se um monstro na sala e de cada vez que me cruzo com ela sofro e logo projecto a felicidade no plasma ou lcd. Há sempre uma cenoura à nossa frente que vemos nos ser acenada e a felicidade está sempre lá, mais à frente e nunca aqui. Este padrão é recorrente nas experiências que buscamos, nos objectos e nas relações. A questão que se coloca é se nós humanos alguma vez conseguimos encontrar essa felicidade e parar de buscar? Alguma vez nos sentimos completos?

O Yoga apresenta-nos uma solução radical para o problema e ensina-nos que nunca teremos sucesso nessa busca enquanto procurarmos extrair a felicidade do mundo, seja em objectos, experiência ou relações. O mundo tem uma natureza impermanente, tudo muda e portanto, ainda que consiga essa felicidade aqui e ali, da mesma forma que vem, vai. E invariavelmente, nos vemos no ponto de partida, não me sinto completo, falta alguma coisa para ser feliz, começo de novo a busca. O mundo é como uma cadeira de cartão numa loja de design. É bom para ser apreciado, mas não para nos apoiarmos. O Yoga mostra-nos que essa busca pela felicidade, pela percepção que nada falta, só pode terminar quando reconheço o que busco naquilo que está presente comigo a todo o tempo – eu, o sujeito presente em toda a acção e experiência. A plenitude não existe fora, a plenitude é o que sou, aqui e agora! O Yoga não promete, mas apenas revela o que está aí para ser compreendido, escondido sobre o manto da ignorância acerca da nossa verdadeira identidade. O Yoga é por isso uma tradição, uma cultura que aponta para a libertação do sofrimento, da percepção errada de que sou incompleto.

Esta tradição, um “fóssil vivo” como foi chamada, nasce na Índia, na cultura védica, é revelado nos Vedas e ali se encontram as raízes daquilo que desde então vem sendo desenvolvido. A época de composição dos Vedas é incerta, diz-se que terão 7000, 6000, 5000 anos, embora só mais tarde tenham sido reduzidos a escrito. Tradicionalmente falam-se em quatro tipos de Yoga: Karma Yoga, Raja Yoga (ou Upasana Yoga), Bhakti Yoga e Jñana Yoga.

Karma Yoga constitui-se de dois passos, a acção correcta e atitude correcta perante os resultados da acção. O Karma Yoga ensina-nos como agir no mundo de forma a criar o máximo de benefício para os demais seres vivos, ao invés de termos escolhas das nossas acções motivadas apenas pelo “umbigo”. Mais nos ensina a lidar com os frutos das nossas acções, a lidar com o momento presente, quer ele corresponda ou não às nossas preferências. O Yogí aprende a apreciar e reconhecer o momento presente como sendo o momento perfeito e essa aceitação vai criando um estado de equanimidade, de paz e serenidade. O Raja Yoga, sistematizado pelo sábio Patañjali nos conhecidos Yoga-Sútras, mas já conhecido nos Vedas com o nome de Upásana (meditação) Yoga. Naquela sistematização Patañjali enumera o sistema ético sobre o qual a prática do Yoga assenta e sem a qual a prática não produzirá o efeito pretendido, é traçado um caminho de conhecimento discriminativo e de meditação. O Yogí aprende a lidar consigo mesmo, os seus medos, obstáculos internos, as latências insconscientes que alimentam sem cessar o fluxo do pensamento e que ditam muito do que somos e fazemos. Nesse processo de exploração do universo interno tornamo-nos cientes do que somos.

O Bhakti Yoga desenvolve a relação entre o Yogí e a inteligência que permeia o Universo. Diz-se que o Bhakti Yoga é como um perfume que permeia todos os demais Yogas, e de facto, ele está firmemente presente em todos os demais. O Yogí reconhece que o universo não é um caos. Antes pelo contrário existe, uma Ordem infalível que subjaz a toda a manifestação e que se reconhece nas leis da Natureza como a lei da gravidade, o movimento das marés, a sucessão das estações do ano. O próprio facto da ciência ser possível revela-nos que existe uma Ordem no Universo passível de ser estudada. Essa relação com aquilo que está em todo lado, que intrinsecamente é o que também somos, caracteriza o Bhakti Yoga. Jñana Yoga é o corpo do ensinamento do Yoga, assente numa tradição e método de ensino, que consiste em ouvir o ensinamento, mantê-lo presente, eliminando dúvidas e contemplar a verdade desse ensinamento no dia-a-dia. Os demais Yogas preparam o praticante para que quando o ensinamento seja ouvido da boca de um Mestre, ele possa produzir o seu efeito e o Yogí se liberte da ignorância acerca da sua natureza, acerca de quem realmente é.

Tradicionalmente estes Yogas não eram apresentados como alternativos, mas sim como complementares e o praticante passaria por todos eles, com maior ou menor incidência em cada um consoante o período da sua vida.

Estas abordagens do Yoga foram-se desdobrando em muitas outras e nomes como Mantra Yoga, Kundalini Yoga, Tantra Yoga, Svara Yoga, Kriya Yoga e muitos outros tornaram-se famosos.

Hoje em dia, a maior parte do Yoga praticado em Portugal e no Ocidente cai na alçada do Hatha Yoga. O Hatha Yoga pode ser visto como um bebé na tradição do Yoga, uma vez que só se terá desenvolvido no sec. IX. Ao contrário dos demais Yogas Clássicos que se poderão dizer prontos, o Hatha Yoga continua a crescer e desenvolver-se. Se for experimentar uma aula de Yoga e se vir de cabeça para baixo, a tentar fazer aquilo a que se conhece vulgarmente como a ponte, a bandeira ou a pinça, o mais provável é estar numa aula de Hatha Yoga. O Hatha Yoga desenvolveu as posições com o corpo pelas quais o Yoga é hoje conhecido.

A verdade é que, no entanto, o Hatha Yoga não se reduz às posições com o corpo (ásanas). Longe disso, o Hatha estabelece-se como paralelo ao Raja Yoga. Poder-se-ia dizer que o Raja Yoga trabalha a mente com a força de vontade e o Hatha prevalece-se do prána (energia) para trabalhar a mente. Assim, o foco do Hatha é também, afinal, a meditação. Pelo caminho são definidos os princípios que norteiam a vida do praticante, o que fazer em sociedade e quando se está só; limpeza e purificação do corpo; força, flexibilidade e longevidade; manipulação da energia no corpo através da respiração e do movimento e permanência do corpo em determinadas posições associado a visualizações, e, finalmente, a meditação. O Hatha Yoga, compreendido no seu âmago, surge quase com um Yoga síntese de ensinamento, prática e meditação de que um bom exemplo é uma das suas escrituras, a Shiva Samhita. Existem vários estilos de Hatha Yoga. Dentre eles, alguns mais conhecidos por outros nomes como Iyengar Yoga, Ashtanga Vinyasa, Vinyoga, Shivananda entre outros. Os nomes surgem apenas para distinguir diferentes abordagens, às vezes remetem para um Mestre, outras vezes apontam para o foco na prática. Claro que alguns professores e escolas ensinam Hatha Yoga, mas não só, ensinam o Yoga como um todo. É verdade, também, que outras escolas procuram distanciar-se criando nomes que as distinguem de tudo o mais. São apenas estratégias de marketing que não alteram a verdade fundamental. Essa proliferação de nomes fantasia chega-nos em parte do Brasil, mas também dos E.U.A. onde as marcas de Yoga registadas se tornaram algo comum.

O Yoga é, em resumo, um mundo vasto e aliciante, abarcando visões aparentemente contraditórias, mas revelando sempre a plenitude do que já somos. Cabe a cada um descobrir esse mundo e perceber a verdade do ensinamento nele presente. Para a pergunta quem sou eu? O Yoga aponta a resposta e está aí para receber novos e velhos, homens e mulheres, atletas e sedentários, donas de casa e empresários. Na medida em que cada um dá ao Yoga, receberá certamente muito mais do que proporcionalmente. Assim, tem sido para mim e para aqueles que me servem de exemplo.

Texto de Miguel Homem. Professor de yoga em Portugal e editor do site http://www.dharmabindu.com/

domingo, 5 de dezembro de 2010

Desmistificando a devoção

Palavras como devoção ou devoto causam, na maioria das pessoas um certo embaraço, uma sensação de desconforto. Elas estão, geralmente, ligadas à uma crença dogmática e inquestionável, ou à existência de Deus. O devoto é aquele que acredita e que não questiona aquilo no que foi ensinado a acreditar. Porém, dentro do contexto cultural do Yoga, devoção é uma maneira (desapegada) de agir, e não simplesmente realizar ações ditas “devocionais”, como oferecer incenso, cantar mantras, etc.

Acontece que muitos de nós, praticantes de Yoga, também temos uma visão equivocada sobre o que seja devoção. Como hoje em dia tudo somente acreditamos naquilo que á tangível, a prática devocional dentro do Yoga tornou-se simplesmente aquela que é feita através de ações. Pensamos que devoção seja acender incenso, cantar mantras, fazer uma puja. Sim, todas são formas de devoção, mas devoção não é simplesmente isso.

Esta parte “mística” do Yoga chama-nos logo a atenção. Buscando soluções rápidas para as curas dos nossos males, nos jogamos de cabeça numa série de crenças irracionais que chamamos de “práticas devocionais”: enchemos a nossa casa de imagens hindus e incenso, e cantamos Hare Krishna.

Nós copiamos exemplos de nossos professores ou de imagens que vimos em alguns lugares e acabamos por repeti-las automaticamente sem nos dar ao trabalho de tentar compreender o significado das coisas. Digo que estas práticas são subjetivas, pois são crenças não verificáveis que pertencem a uma cultura estranha para nós. Lemos sobre rituais para o deus tal e para a deusa tal, e saímos copiando um comportamento que é interessante, mas que perde o significado se o tomarmos fora de contexto.

Assim como vemos nas primeiras práticas de ásanas, dentro do yoga, o que nos salta aos olhos são todas aquelas posturas extremamente difíceis, da mesma forma são os gestos rituais. Se não entendemos o conteúdo de cada um deles, tudo fica sem sentido.

Todos nós ficamos admirados quando assistimos a um ritual do fogo. Todo o desenvolvimento do ritual e seus pequenos e intrigantes detalhes. Tudo o que o sacerdote vai dizendo, seus movimentos e ações dentro do ritual. Mas se não entendemos do que se trata, estamos apenas repetindo certas coisas que ele pede para serem feitas ao longo do ritual.

É preciso não apenas repetir as palavras, mas entender o significado delas. Não é simplesmente jogar arroz no fogo, mas entender o que aquilo sugere.

A simples ação sem o conhecimento daquilo que está sendo feito não é válida.

A devoção na visão do Vedanta

A devoção na visão do Vedanta não depende apenas da ação, mas na capacidade de entendermos a causa de toda a criação e a capacidade de acomodarmos este conhecimento em nós mesmos. Antes de sairmos copiando nossas fontes de inspiração e ensino, deveríamos nos questionar se eles também sabem o que significa devoção e se são verdadeiros devotos.

Crenças e fatos

Ser um devoto não é simplesmente acreditar sem questionar. Nós entramos em contato com o conhecimento através de nossos professores. Esta é a primeira etapa, chamada sravanam. Nós ouvimos sobre aquilo que é o Criador e a Criação. Logo nos deparamos com uma questão que diferencia a visão ocidental da visão do vedanta que é a visão da dualidade e a da unidade respectivamente.

Na visão ocidental, existe um criador que está em algum lugar comandando toda a criação. A visão ocidental limita este criador a um ser especial, e portanto por limitar-se a um corpo que está em algum lugar, não poderia estar em tudo aquilo que foi criado.

Na visão ocidental, esta matéria que é a manifestação está separada do princípio criador.

À luz do vedanta 1+1=1, ou seja, criação e criador não estão separados. Aos olhos do vedanta o criador é aquele que permeia tudo aquilo que se manifesta e também tudo aquilo que não é manifestado.

Aquilo que se manifesta é a matéria. Ela é tudo aquilo que percebemos através de nossos sentidos e mente. Os elementos que compõem nosso corpo e toda a natureza (terra, água, fogo, ar e espaço). O principio desta manifestação é a inteligência que a criou a partir de si mesma (jagat karanam), a permeia e permite que ela se sustente, que ela seja consciente em si mesma. Ou seja, a causa é presente na matéria (criação, manifestação). Para que este conhecimento seja válido é preciso entender. Esta inteligência é representada por leis que mantém o universo do jeito que ele é (dharma). Isso não é mera especulação. A dúvida que nos afasta da compreensão desta inteligência é que na nossa cultura estamos acostumados a colocar este Ser inteligente em um lugar específico de onde ele tudo vê e governa.

Aí entra a segunda etapa da prática que é mananam, o questionamento.

Se eu existo como o indivíduo que sou, existe uma causa, um fato para isto. O fato é que para eu estar aqui, hoje, houve uma causa chamada meus antepassados. Isto é um fato, não é uma crença. Minha mãe pode ter me dito que se eu existo hoje é por causa dos meus tataravôs, lá trás.

Quando eu era criança, simplesmente acreditava, pois ainda não possuía os meios para questionar. Mas depois de crescido constatei este fato. Então o conhecimento é aquilo que me livra de uma especulação e me traz à realidade. Crença está sujeita a especulações. O fato, não.

Tudo bem, então já entendi porque fui capaz de desenvolver uma mente que questiona e entende a realidade da matéria. Mas como entender esta inteligência que permeia tudo isso? A resposta é nididhyásanam, a contemplação, a apreciação da minha essência. Tendo adquirido o conhecimento, agora é o momento de acomodá-lo, validá-lo para mim mesmo. E é ai que surge o verdadeiro devoto.

O devoto não precisa agir. Não precisa se fantasiar com mil japa malas, acender duzentos incensos ou ficar cantando mantras que nem um rádio o dia inteiro. O devoto é aquele que tem uma apreciação do Todo, uma compreensão do Todo e do que ele mesmo é, este Todo. O devoto é aquele quem executa as ações com o conhecimento do Todo. E não como um místico-hippie que especula e espera que em algum momento de seus “rituais cenográficos” surja uma “visão” do divino.

Por isso é tão interessante observarmos se nossos professores, mestres e gurus são verdadeiramente possuidores de conhecimento ou simplesmente imitadores de modelos que vemos em revistas e internet. Pois são eles que possuem a capacidade de despertar este devoto consciente que existe em cada um de nós. Podemos dizer, portanto, que devoção é conhecimento.

A Gravidade do Problema

Não é um maluco qualquer, em qualquer lugar, com quaisquer pessoas fazendo bobagens em nome do Yoga. É um professor em São Paulo, que já ministrou aulas para pessoas famosas, que cobra 3 mil reais por curso e que atrai pessoas de uma classe média alta do nosso fraterno e multicultural país. Quando um carinha qualquer faz uma bobagem qualquer, em qualquer lugar, com quaisquer pessoas, a merda não fede, pois não tem nenhum nariz apurado para sentir. Mas no caso aqui citado, a merda foi jogada no ventilador, e não apenas fedeu, mas respingou em todos nós, instrutores de Yoga.

O fato acontecido desse tal camarada que se diz instrutor de Yoga faz-nos pensar sobre a responsabilidade que temos enquanto professores e sobre a nossa união enquanto profissionais que trabalham com Yoga. Temos responsabilidades com a vida, a saúde, a integridade física e moral dos nossos alunos. Eu não estava lá para ver e como não acredito muito no que a TV e os jornais falam, e por isso não vou me prender a fatos que podem ter acontecido ou que aconteceram no retiro que levou pessoas à UTI. Mas vou resumir as minhas reflexões a respeito dos efeitos dos atos de uma pessoa dentro de todo o universo yogi.

Não há como limpar o que foi feito, pois seus efeitos foram muito longe, parou no Fantástico. O que podemos fazer é nos precavermos dos efeitos de outros atos antiéticos que possam acontecer e que sabemos que não apenas podem, mas acontecem. Esse não foi o primeiro, houveram outros e existem outros nesse momento ajudando a afundar a reputação do Yoga na nossa sociedade. A diferença é que este infeliz ocorrido caiu na mídia, mas outros talvez até mais graves não foram parar no Fantástico. Como instrutores de Yoga muitos de nós sabemos que existem grupos que deixam a ética de lado e fazem coisas tão absurdas em nome do Yoga.

Bom, o ocorrido talvez traga à tona o questionamento sobre a regulamentação do Yoga. Esse é o meu maior receio. É uma responsabilidade muito grande sermos professores de Yoga, por outro lado não há necessidade de qualquer tipo de exigência para exercer a profissão. É o bom senso e a ética que deve nos guiar, afinal de contas, estes devem fazer parte do conteúdo que passamos aos nossos alunos. Mas o que vemos é que a união entre a ética, a falta de bom senso e o Yoga podem ser uma combinação explosiva. E pode dar no que deu.

Apesar de não ter como limpar a bobagem que este instrutor de Yoga fez, quem, ao menos, vai ajudar a limpar a imagem do Yoga perante a opinião pública? Todos nós podemos e devemos, sendo éticos. Mas isso não é o suficiente. Ser ético dentro do Yoga não é mérito algum. Numa sociedade onde a ética está em crise, podemos até pensar que ser ético é um grande mérito. Não é. Sendo éticos estaremos apenas fazendo o nosso trabalho, o nosso dever. O que devemos fazer é nos unir. É, apesar de termos vozes dissonantes, podemos falar a mesma língua. A língua de pessoas que estão unidas em torno do Yoga, do trabalho com o Yoga.

Quando acontece um erro médico, o conselho de medicina tenta se retratar para procurar resgatar a credibilidade dos profissionais da área. O mesmo acontece com outras profissões. E com o Yoga, quem pode falar em nome do Yoga? Todos nós podemos falar e ser ouvidos, se estamos unidos. Não defendo aqui a institucionalização do Yoga, questiono apenas a união de seus profissionais em prol da ética e da responsabilidade.

Os professores de Yoga hoje encontram-se reunidos em pequenos grupos que brigam, criticam-se e competem. Historicamente é assim, desde que o Yoga começou no Brasil. Pesquisem sobre a história do Yoga no Brasil e confirmem. Não são poucos grupos, são muitos, mas são pequenos e desunidos. Estes pequenos grupos, se juntos, reúnem um número muito significativo de pessoas, pois são milhares os instrutores de Yoga trabalhando no Brasil. Mas separados como estão, incluindo este que te escreve nesse momento, não tem representatividade alguma. Pessoas desunidas são apenas pessoas, indivíduos que se desentendem entre si. Pessoas unidas têm representatividade e voz pública. Quem irá falar pelo Yoga nesse momento? Todos nós podemos e devemos.

Escrevamos para os jornais, para as revistas, para o Fantástico e vamos dar a nossa opinião, vamos nos defender e defender o Yoga. Isso é o mínimo que podemos fazer nesse momento.

Porém, quando a poeira desse acontecimento abaixar, vamos refletir sobre a união dentro do Yoga. União para além da institucionalização. Porque se não estamos unidos, não temos representatividade e quem está unido tem. E talvez quem esteja unido hoje dentro do mundo do Yoga no Brasil sejam as pessoas menos recomendadas a falar por todos nós, pois estas são capazes de levar a reputação do Yoga a um nível mais baixo do que este professor conseguiu fazer. E aí, quando algum outro escândalo acontecer e notícias saírem nos jornais sobre escândalos, referindo-se ao Yoga com uma linguagem muito próxima a que se referem a seitas como a de Jim Jones, quem falará pelo Yoga? Quem falará por nós, instrutores?

Texto do amigo e irmão Yogi de Aracaju - Floripa, Tales Nunes

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Por que sofremos?


O Yoga Sūtra de Patañjali é uma obra composta de 196 aforismos e é uma das grandes referências para quem estuda o Yoga. O capítulo II comenta sobre a prática (Sādhana Pāda) e nos apresenta de forma muito clara os 5 tipos de kleśas.

Kleśa significa sofrimento, aspecto doloroso da consciência, aflição, miséria existencial.

Essas aflições quando manifestadas potencializam o desequilíbrio de certos atributos (gunas), modificando dessa forma o fluxo de causa e efeito, se refletindo nos frutos das nossas ações. Elas são: ignorância (avidyā), egoísmo (asmitā), apego (rāga), aversão (dvesa) e medo da morte (abhiniveśa).

A ignorância (avidyā) é a causa dos outros quatro kleśas.

Eles existem em vários estados: latente, atenuado, intermitente ou ativo.

Se apresentam de três diferentes formas:

- Ādhidaivika: aquele que surge das forças da natureza.
Ex: Tsunami, terremoto, tempestades, indundação, etc.

- Ādhibhautika: aquele que nasce dos relacionamentos.
Ex: Não aceitarmos as pessoas como elas são.

- Ādhyātmika: aquele que vem de dentro, ou seja, já está na pessoa na forma de condicionamentos ou crenças limitantes.
Ex: Achar que um determinado objeto possa nos dar a felicidade que tanto buscamos.

Quando compreendemos que o fruto do nosso sofrimento é proveniente da nossa ignorância (conhecimento errôneo), o único antídoto para nos livrarmos dele é o conhecimento. A causa do sofrimento se dá unicamente por uma má compreensão do real significado das coisas (ilusão). Através do conhecimento podemos distinguir o que realmente nos torna feliz e satisfeitos, saber as coisas que podemos modificar daquelas que não podem ser modificadas.

É necessário sempre investigarmos o que motiva a nossa insatisfação. Quando lutamos por algo devemos ter em mente, antes de tudo, que essa é uma luta interna. Certas tentativas de mudanças e conquistas se tornam inúteis quando elas apresentam as suas próprias limitações. Isso pode representar uma grande perda de tempo e energia, que poderíamos estar direcionando para mudanças realmente úteis.

Aceitarmos as coisas como elas são não significa ser compassivo com tudo, mas aceitar uma dada situação como ela é. Achar que podemos adquirir, controlar e modificar o mundo e os outros é um grande equívoco, uma grande falta de maturidade emocional. Por exemplo: Quando programamos o nosso dia e as coisas começam a dar erradas, o que adianta ficarmos nervosos e procurando achar culpados para os nossos problemas? Com certeza essa postura não vai mudar nada e de bônus vamos estar gerando uma bela úlcera no nosso estômago.

Se compreendemos isso passamos a trabalhar a “acomodação” (estado de kśanti) frente as diferentes situações apresentadas para nós. Saber se acomodar é uma arte de se viver bem. Somente através da prática constante podemos modificar esse padrão. Isso representa uma maturidade emocional.

A maturidade emocional se reflete na compreensão que existe uma ordem (Íśvara), uma inteligência que faz com que as coisas aconteçam e sejam exatamente da forma como são. Implica também na verdadeira compreensão dos valores e numa postura ética em relação a eles. Isso nos da a condição de agirmos e fazer o que é apropriado sempre que possível (dharma), além de vivermos uma vida onde os problemas passam a ser basicamente relativos.

Texto de Vicente Morisson

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O que é Dharma?


Por detrás de toda ação existe um desejo. Mas qual ação faremos para satisfazermos o desejo é uma questão de escolha. Podemos fazer de um jeito, do jeito contrário, ou de um jeito diferente. Então, o que guia nossas escolhas?

Dentro da tradição védica temos um conceito fundamental denominado dharma. A palavra dharma vem da raiz sânscrita dhr, que quer dizer sustentar. Portanto o dharma é aquilo que sustenta, que possibilita, que regula, são as leis, os valores, um estilo de vida. Nosso primeiro impulso seria definir dharma como “o que é ético” ou “o que é moralmente correto”. Mas esse seria um erro; dharma é muito mais do que isso. Dharma é visto como um dos quatro purushárthas, ou objetivos da vida humana. Além de dharma e moksha, sobre o qual falaremos mais tarde, os outros dois purushárthas são artha e káma, segurança e prazer. Na busca de alcançar esses objetivos, e satisfazer nossos desejos, nos deparamos com a necessidade de fazer escolhas, e o que nos guia nessas escolhas é dharma.

Mas porque devemos ter esse cuidado todo com a escolha da ação? Afinal de contas, contanto que a ação nos dê o resultado imediato esperado, tudo bem. Bom, na verdade, a coisa não é assim tão simples. Os Vedas dizem que toda ação, karma, tem resultados que podem ser de dois tipos: visível, drshta phala, ou invisível, adrshta phala. O visível é aquele imediato. Se você avança um sinal de trânsito (semáforo) e quase provoca um acidente vai ouvir a indignação dos outros motoristas. O invisível fica desconhecido e vem a frutificar mais tarde, quando você recebe a notificação da multa por ter avançado o sinal! O resultado, seja visível ou invisível, pode ser agradável ou desagradável. O resultado agradável chamamos punya, e o desagradável chamamos pápa. A partir do momento em que entendemos que existe uma ordem nesse universo que regula nossas ações e seus resultados e que sem dúvida sofreremos o resultado de nossas ações mais cedo ou mais tarde, ou até mesmo quem sabe numa próxima vida, naturalmente passamos a ser mais cuidadosos ao escolhê-las e buscamos nos guiar pelo dharma.

O conceito de dharma não pode ser entendido, ou explicado, em poucas palavras. Vamos tentar compreender a extensão que essa palavra alcança entendendo os conceitos de sámánya dharma e vishesha dharma.

Sámánya dharma é o dharma geral, regras gerais aplicáveis a todo membro da sociedade, ou os valores aceitos universalmente. Não gostamos que nos agridam, portanto não devemos agredir os outros. Não gostamos quando os outros nos enganam ou mentem, portanto não devemos mentir ou enganar. Vishesha dharma é o dharma específico de um grupo ou de um indivíduo dentro da sociedade. Se sou um médico, devo ser responsável e respeitar meus pacientes. Como filho devo cuidar de meus pais. Dentro da sociedade védica esses dharmas específicos eram muito bem definidos e divididos em áshrama dharma e varna dharma.

Um áshrama é um período da vida de uma pessoa. A tradição védica fala sobre quatro áshramas: brahmacharya, grhastha, vánaprastha e sannyása. No primeiro período da vida o indivíduo se dedica ao estudo. Nesse período, chamado brahmacharyáshrama, a dedicação deve ser completa e o relacionamento com o guru deve ser priorizado em detrimento de outros. É por isso que a palavra brahmacharya está tantas vezes associada ao celibato. Em um segundo período da vida o indivíduo se casa, tem filhos e sustenta sua família e a sociedade com seu trabalho. Essa fase é chamada grhastháshrama. Depois que os filhos estão crescidos, casados e que o indivíduo não é mais tão necessário no prover da família vem a terceira fase, vánaprastháshrama. A pessoa se aposenta e tem a oportunidade de se dedicar ao estudo das escrituras em busca do auto-conhecimento. Essa é uma fase que serve de adaptação para a seguinte, sannyásáshrama, quando o indivíduo se desvincula de todos os seus compromissos com a sociedade e relacionamentos familiares e se torna um renunciante. Essas fases bem definidas da vida do indivíduo servem para guiá-los em suas escolhas. Cada indivíduo em cada um desses áshramas tem seus direitos e deveres bem definidos. Esses “direitos e deveres”, esses “certos e errados” são o dharma, ou o áshrama dharma de cada indivíduo em cada fase da vida.

O conceito de castas é bem conhecido, mas sua origem é de modo geral ignorada. Os varnas, ou castas têm sua origem nos Vedas, mas, ao longo do tempo seu significado foi sendo deturpado. O conceito de varnas é usado nos Vedas para classificar os vários tipos de mentes e elucidar o tipo de atividade que cada indivíduo, com certas características mentais, estariam mais aptos a seguir. Esta classificação não era para ser algo hereditário como veio mais tarde a se transformar. São quatro os varnas. Os indivíduos com uma grande capacidade intelectual, com habilidades para serem professores, intelectuais, pesquisadores, eram chamados Bráhmanas. Aqueles com forte impulso para a ação, clareza de mente, senso de dever para com a sociedade como um todo, os guerreiros e governantes eram chamados Kshatriyas. Os indivíduos do terceiro grupo, Vaishyas, também têm um forte impulso para ação, mas uma visão mais restrita. Eles visam as próprias necessidades mais que as necessidades coletivas. São os comerciantes. E por último temos os Shúdras. Esses não têm nem muito impulso para ação, nem capacidade mental extraordinária, mas são necessários dentro da sociedade para desempenhar os trabalhos mais mecânicos.

Dentro da sociedade védica o dharma dos indivíduos, em cada áshrama e varna, ajudava a regular e harmonizar o convívio dentro da sociedade. No momento em que o desejo aparece é o dharma que deve guiar o indivíduo na escolha da ação adequada.

O Dharma do Yogí

O quarto purushártha é moksha, a liberação. Aquele indivíduo que busca moksha entende que a satisfação dos desejos não trazem uma felicidade permanente e por isso busca a liberação definitiva do senso de limitação que leva ao sofrimento. Mas mesmo esse indivíduo não está livre de ter desejos e de ter que escolher a ação adequada para satisfazê-los. Na verdade, para esse indivíduo, o yogí, a escolha de seguir o dharma, seja qual for sua fase da vida, predisposição mental ou escolha profissional, é pré-requisito fundamental. Uma vida de yoga é uma vida essencialmente dhármica. Nos dias de hoje, mesmo na Índia, o dharma pessoal não é assim tão claro quanto no tempo védico. A sociedade se modificou e com ela o dharma. O dharma não é absoluto, muda no tempo e no espaço. Sendo assim, cada um deve buscar compreender seu próprio dharma dentro da sociedade e da família em que nasceu, e assim guiar suas escolhas e ações. Mas mesmo nos dias de hoje podemos utilizar um velho conselho indiano que diz que, em caso de dúvida, devemos procurar uma pessoa sábia e não envolvida diretamente na situação para aconselharmo-nos. Dentro da sociedade indiana, até nos dias atuais, essa pessoa geralmente é o guru.

Os desejos e as qualificações da mente

Uma coisa é saber o que fazer, outra coisa é pôr esse conhecimento em prática. Nossos desejos são fruto das nossas programações mentais, nossas predisposições, ou samskáras. Muitas vezes os motivos que nos levaram a um desejo são ignorados por nós, ficam no nosso inconsciente, e nesse caso é ainda mais difícil resistir à ação errada. Se quisermos seguir uma vida dhármica temos que conhecer nossa mente para que as ações, aos poucos, deixem de ser impulsivas e passem a ser deliberadas. Essa é uma grande qualificação da mente que deveria ser almejada por todo yogí. Uma mente qualificada terá a capacidade de controlar tanto suas ações externas quanto suas emoções. Essas duas qualidades são citadas tanto em textos de Vedánta quando em textos de Yoga. A capacidade de controlar as ações em um nível físico é dama. E a capacidade de controle dos pensamentos e emoções, ou seja, a nível mental, é shama. Mente e corpo não são separados, um está constantemente influenciando o outro.

O desejo começa ao vermos um objeto. Se nesse momento percebemos aquele primeiro pensamento do tipo “seria bom se eu...” podemos conscientemente afastar o segundo, o terceiro e o quarto pensamentos que iriam reforçar o primeiro e finalmente levaria o desejo a se instalar por completo em nossas mentes. Uma vez instalado o desejo, só há uma opção, controlar nossos órgãos de ação, essa qualificação é dama. Nesse caso a manifestação no nível físico é controlado. Podemos até chegar a ficarmos “vermelhos de raiva”, mas seguramos a vontade de agredir alguém.

Podemos nos ajudar a ter uma disciplina da mente através do disciplinar do corpo e também podemos ajudar a disciplinar o corpo através do disciplinar da mente. A estreita interação do corpo com a mente possibilita isso. É aí que ásanas, pránáyámas e outras práticas, físicas ou não, do Yoga nos ajudam a ter clareza de mente para escolher a ação correta e colocá-la em prática.

Devemos conhecer a mente, controlar o corpo, escolher a ação dhármica e esperar o fruto da ação, confiantes de que ele é sempre adequado e em harmonia com a ordem do universo, mesmo se não for o desejado. E depois reavaliar os desejos, escolher outra ação, e por aí vai. Parece simples em teoria, na prática nem tanto. Mas quem disse que uma vida de Yoga era para ser fácil?

Texto de Paula Ornelas, professora de sânscrito e vedanta no Rio de Janeiro

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Faça arder!!



Tentei. Juro que tentei manter minha mente quieta ao presenciar mais uma experiência não tão agradável com o que algumas pessoas chamam de prática de yoga. Tentei manter os meus preconceitos a parte, mas os instintos básicos berravam com toda força dentro de mim. Pediam por sobrevivência. Como poderia eu sobreviver àquela sessão de espancamento gratuita, até então dita, yoga.

Argumentos vêm e vão, mas nada mais me tira da cabeça de que certos tipos de prática são torturas. São humilhantes...desagradáveis.

Não me imagino permanecendo por tempo prolongado em uma postura que meu corpo não comporta. Tudo bem, existe inicio, às vezes a gente pena para construir uma base mais sólida, criar força para se sustentar, mas temos que realizar que certas coisas estão além das nossas limitações!! Ahimsaaaaaaaaaaa!!!! O Pilar da prática, do Dharma.

Até certo ponto estou começando a achar uma grande irresponsabilidade dos profissionais que exigem dos alunos coisas que eles possivelmente nunca farão. Um corpo não foi feito para realizar todas as posturas e é preciso respeitar isso!

Asana é conforto. Patanjali já definia isso nos yoga sutras. Se não há conforto, como vou poder experimentar o momento presente ao máximo? Vou poder, sim, experimentar dor máxima, e com o tempo, uma possível lesão muito séria.

Se começamos a prática invocando o mantra Om, não adianta de nada continuá-la apenas invocando, agora, nomes de músculos, articulações e ossos.

Outro problema é que nenhum praticante iniciante é obrigado a saber destes nomes todos e muito menos reconhecer estas partes do corpo através de tapas bem fortes e estalados.

É muita informação para uma pessoa, que ainda tem que olhar para o professor e, sobretudo, continuar respirando...tem aqueles que acabam esquecendo.

Então aquele momento de reflexão, de compreensão sobre a sua própria natureza, se torna uma sessão de anatomia aplicada com tapas, voz estridente e alta, caras feias, resultados de dores e ás vezes até com requintes de crueldade. “Mantenha a postura e faça arder!!”

Voltando um pouquinho, se começamos a pratica invocando o Mantra Om, isso quer dizer que estamos refletindo sobre o Ser. Om é Shabda Brahman, ou seja, a forma sonora do absoluto.

Om nos remete àquilo que somos. É um lingam, ou seja, algo que nos mostra a direção de nossa caminhada.

E para realizar a nossa própria essência, é preciso conforto, é preciso assentar o corpo, aquietar a mente, e não agredi-lo.

Corpo e mente são suas ferramentas para a meta última do Yoga que é Moksa (liberdade). Então cuide bem delas.

Lembre-se: não existe só uma forma de praticar, existe a sua forma, a mais adequada ao teu momento, às tuas limitações. Saiba respeitá-las e poderás praticar por muito tempo.

Questione sempre, pergunte, tente aprender sempre mais. Não somente de um professor, não somente de uma marca ou rótulo de Yoga. Estude, faz parte. Procure suas respostas, ouça o que vem de dentro de você. Yoga é yoga e pronto. Mas acima de tudo é liberdade, paz e conforto em si mesmo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A visão Védica do Yoga


O Yoga tornou-se popular. Hoje em dia quase todos já ouviram falar de Yoga, a maior parte das vezes associado a posições contorcionistas de um artista de circo.

Nem sempre a comunicação social ajuda a transmitir o que seja o Yoga e, verdade seja dita, nem sempre aqueles que se dedicam ao seu ensino ou prática perceberam verdadeiramente a que almeja o Yoga.

A observação da realidade mostra-nos que todos os seres humanos estão envolvidos em diferentes tipos de busca nas suas vidas. Desde a infância vemos a criança esforçar-se para conseguir algo, primeiro comida, depois brinquedos e em adulto continua esse esforço em direcção a brinquedos maiores, a casa, carro e outros objectos. Percebemos ainda que mesmo havendo um padrão de busca comum, pessoas diferentes perseguem coisas diferentes.

Dir-se-á que, à primeira vista, existem tantas buscas quantos seres humanos. No entanto, mesmo quando parecem diferentes, se analisarmos, percebemos que em todas elas há algo em comum que todos buscam de forma uniforme: essa coisa comum é a aquisição de alegria, felicidade (sukha prapti). Uma pessoa pensa que felicidade existe na forma de ter uma casa e família, outra julga que é ter muito dinheiro, outra ser famoso, alguns procuram na música, etc. Mesmo sendo externamente diferentes em todas essas buscas cada um de nós só procura paz, conforto e felicidade. Não só todas as pessoas, mas todos seres buscam a felicidade (sukha praptaye pravrittihi). Vemos também que, por vezes, o esforço é para se libertar de algo, como numa visita ao médico em que nos queremos libertar da dor ou doença, ou ainda com qualquer objecto, quando queremos vender uma casa. Assim, a perseguição não é só de felicidade (sukham), mas também da libertação do sofrimento.

É então claro que toda a busca humana é no sentido de conseguir algo ou libertar-se de algo. Por trás de toda a conquista (coisas, relações) apenas procuramos felicidade (sukham pravritti). Mesmo quando o que queremos é libertar-nos de coisas, objectos, relações, o que procuramos é essencialmente o mesmo. Quando nos queremos desfazer da tv antiga, é porque vemos infelicidade (dukham) na tv – dukham nivrittihi.

Prosseguindo a nossa análise, compreendemos que queremos felicidade (sukham), sem qualquer mistura de sofrimento (dukham). Queremos ser felizes sem qualquer perturbação. Todos procuram felicidade pura – kevalam sukham. Mas não queremos só felicidade pura. Por quanto tempo queremos felicidade? Em que dia, a que horas? Percebemos que não só queremos felicidade pura, mas queremos felicidade permanente (nityam sukham). E depois de a alancarmos o esforço e busca não acabam. Agora trabalhamos também para a manter. E por fim, queremos felicidade de uma ordem que não possa ser aumentada ou melhorada. A geração dos meus pais começou por ter uma Tv a preto e branco, depois veio a tv a cores, a seguir a tv plasma e qualquer dia a tv a 3 dimensões. Queremos sempre mais. Queremos o máximo de felicidade, (niradishayam sukham), mas só o infinito não pode ser melhorado e aumentado.

Ou seja, queremos felicidade infinita em quantidade, em qualidade e em duração. A questão seguinte é: somos bem sucedidos neste esforço? Em crianças começamos esta luta e continuamos … alguém no momento da morte diz que está tudo bem? Que não quer mais nada? Não, continuamos com o sentimento de falta, de carência de algo. Algumas pessoas reconhecem este problema cedo, mas a maioria, continua a perseguição e morre perseguindo sem perceber que o problema foi mal diagnosticado.

As escrituras do Yoga e o ensinamento do Yoga discutem este problema fundamental, e segundo elas, de facto, não estamos a conseguir ter sucesso nesta busca, mas mais nunca teremos sucesso. Enquanto nos esforçarmos para alcançar felicidade permanente (nitya ananda) nunca o conseguiremos. E não o conseguiremos porque a abordagem ao problema está errada.

Vamos imaginar que estamos no meio da natureza e decidimos fazer um chá para aquecer enquanto apreciamos a natureza. Acendemos uma lareira, criamos uma estrutura própria para o efeito e aquecemos um pote de água. Naturalmente o pote aquece e depois aquece a água. Agora pergunto porque está a água quente? A água que normalmente é fria, adquire uma nova propriedade em contacto com o tacho que é quente, e torna-se quente. Porque está a água quente? Porque está o tacho quente? Por estar em contacto com o fogo. E porque está o fogo quente? Porque é fogo, porque é a sua natureza intrínseca. Seria o mesmo que perguntar porque é o gelo frio ou o açúcar doce. O tacho está quente porque empresta essa característica do fogo, é um atributo incidental. Da mesma forma, o calor na água é um atributo incidental. Assim, reconhecemos dois tipos de atributos, intrínsecos e incidentais. Se analisarmos mais profundamente descobrimos que a água tem o seu calor emprestado do fogo, percebemos que o calor na água é um atributo dependente, enquanto que o calor do fogo sendo intrínseco, é um atributo independente. Uma vez que o calor no fogo é intrínseco e independente, mesmo que removamos o tacho e a água, o calor permanece, com ou sem tacho, de manha ou de tarde, na Índia ou no Japão, em qualquer tempo, espaço ou condição., kala, desha, avastha. Assim a natureza intrínseca é sempre uma propriedade permanente. Por outro lado, a água é quente por causa do fogo. Quando o fogo é afastado, o calor desaparece. O atributo incidental é dependente e por isso também impermanente.

Retomemos agora a nossa busca original. Em que é que estamos interessados? Felicidade (sukham, ananda). E que tipo de felicidade queremos? Permanente. E o que fazemos? Trabalhamos para conseguir felicidade ajustando as condições externas, ao adquirir coisas e ralações novas. Quando conseguimos felicidade do mundo exterior, essa felicidade pertence a que categoria? Incidental, dependente, impermanente ou intrínseca, independente e permanente? Música, objectos, relações, se conseguimos alguma felicidade do exterior, ela é emprestada e incidental, dependente e impermanente. Assim, se a conseguimos, é certo que a vamos perder também. Esforçar-se para conseguir felicidade permanente (nitya ananda) é uma contradição em termos. Porque se a conseguimos ela é incidental, e se é incidental ela é dependente e por isso impermanente. Não podemos esperar do mundo felicidade permanente.

Perguntar-se-á então o que fazer? Se existe felicidade permanente (nitya sukham) não pode ser conquistada, porque se é permanente (nityam) não depende de outros factores e tem de ser a minha natureza intrínseca. Só se descobrir a felicidade (ananda) como sendo a minha verdadeira natureza, só então, poderei esperar ser permanentemente feliz - Svarupa andandaha eva nitya anandaha

A questão é que esta visão é difícil de aceitar, porque não essa a nossa experiência e o simples facto de buscarmos parece nega-lo. Não fosse assim, porque buscaria? Ou porque não tenho o que procuro ou porque ignoro que não tenho. A verdade é que procuramos a felicidade porque não a reconhecemos em nós, somos ignorantes dela. Se este facto não é conhecido, e se continuamos a persegui-lo, o que fazer? A solução não é adquirir (pravritti) nem ver-se livre (nivritti), mas conhecimento (jñanam), conhecermos quem somos, quem é este Eu auto-evidente. A solução é auto-conhecimento (atma vidya, svarupa jñanam).

Sobre este tema versa o ensinamento do Yoga, conforme foi discutido na parte final dos Vedas, chamada Upanishads. No Yoga encontramos o ensinamento, a preparação para ele e os meios para que esta compreensão e visão se estabeleça.

Texto de Miguel Homem. Grande amigo, irmão e professor de yoga em Portugal

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Curso Instantâneo de Formação (gratuito!) e receita infalível para ficar rico ensinando Yoga

Não quero ser repetitivo com os temas que escolho para escrever neste site, mas as atuais circunstâncias nos mostram que alguns assuntos estão longe de se esgotar. Um deles é o tratamento patife e caricato que o Yoga está recebendo nos meios de comunicação. Do jeito que as coisas estão sendo apresentadas, esse sofisticado sistema de filosofia está ficando muito parecido com um cachorro viralata (com todo respeito pelos simpáticos quadrúpedes).

Para evitar que as coisas piorem, achei que seria uma boa idéia estipular um padrão mínimo de ensino para que esta tradição milenar não se perca. Dessa forma, e inspirado pelos cursos de nivelamento oferecidos pelos CREFs, criei um Curso Instantâneo de Formação. Igualmente, juntei a ele uma série de dicas importantes que podem ser aplicadas por aqueles que aspiram a ficar ricos ensinando Yoga, sem abrir mão da profundidade filosófica dos ensinamentos (tá bom, só um pouquinho!).

Agora, você pode aproveitar minha vasta experiência como megaempresário do Yoga para também ficar rico. Por primeira vez na história, estou revelando gratuitamente o segredo do sucesso de tantos gurus que prosperaram em ocidente. A informação para este curso foi retirada da mídia não especializada que, como todos sabemos, é a fonte de pesquisa mais fidedigna sobre as tradições ancestrais do Yoga.

Caso você esteja interessado em fazer sucesso e dinheiro aplicando esta receita de Yoga (aliás, já divulgada pela mídia), reúna ao longo de uma aula de 60 minutos os ingredientes listados a seguir. Para ensinar este tipo de Yoga, não se exige nenhuma experiência prévia. Só precisa ser bastante cara de pau e ter um pouco de criatividade. Esta fórmula é especialmente indicada para academias de ginástica:

Como apresentar-se:

- use roupas sensuais e apertadas (e dane-se a circulação)

- se você for mulher, pense num implante de silicone (mas só se for XG!)

- loirice sempre está de moda nas academias. Se você não for loira, pense em ficar loira

- se você for homem, malhe bastante ferro e tome L-carnitina (suco de boi ralado, que ajuda a destacar os músculos)

- se não tiver tatuagens, faça-as

- se já estiver tatuado, tatue-se mais, preferentemente com motivos hindus.

Acrescente à sua prática:

- algumas séries de saudação ao sol

- um pouco de alongamento

- um pouco de contorcionismo

- algumas séries de abdominais

- uma postura de cabeça para baixo

- alguns minutos de descanso.

Certifique-se de que as pessoas transpirem bastante. Para tanto, feche as janelas se for preciso. Fale bastante em queima de calorias.

Use expressões como estas:

- vamos lá, força!

- é isso aí, pessoal!

- puxa mais! (ou estica mais!)

- show!

- uhu!

Elimine qualquer menção à ética do Yoga, principalmente durante as práticas, para não distrair os alunos que estejam apreciando (ou invejando) alguma parte da anatomia ou a performance dos demais.

Evite fazer invocações, mantras ou visualizações que possam assustar seus alunos ou tirá-los de seus devaneios. Reduza os respiratórios e elimine sumariamente a meditação (afinal de contas, meditar é mesmo um saco). Imposte a voz e esforce-se para fazer cara de inteligente.

Evite as seguintes palavras:

- filosofia

- auto-conhecimento

- transcendência

- espiritualidade

- iluminação

Qualifique seu método com adjetivos como estes:

- científico

- anti-espiritualista

- malhação corpo-mente

Sorria bastante, especialmente na execução das posturas mais difíceis (treine frente ao espelho, se for preciso). Avise às pessoas que as práticas que você ministra têm mais de 5000 anos de garantia e existência comprovada. Invente um nome indiano para seu mestre imaginário e declare que você recebe instruções diretamente do além (tente não rir de si próprio ao fazer isso. Com o tempo, você irá se acostumar). Monte uma campanha de marketing e faça uma vernissage numa academia da moda para lançar sua criação.

Use slogans como estes:

- o exercício que traz força, flexibilidade e bem-estar

- a mais nova onda em matéria de condicionamento físico

- ginástica puxada

- força, flexibilidade, equilíbrio e melhor condicionamento cardiovascular

(citações ipsis literis da reportagem da revista Veja de 19/11/2003)

Chame isto de yoginástica, bodyoga ou invente algum outro nome criativo. Pronto! Você já tem a receita perfeita. Há dezenas de milhares de ávidos praticantes desejosos de aumentar sua qualidade de vida aplicando seus ensinamentos "milenares" (mesmo se você não tiver a mínima idéia do que esteja fazendo). Como essa receita foi descrita inúmeras vezes por revistas especializadas em qualquer coisa, como Veja, Boa Forma, Nova e outras, não há como falhar.

Posteriormente, abra franquias, que lhe possibilitarão cobrar polpudos dividendos. Use gente bem jovem. Especialize-se nesse público, pois os jovens são mais fáceis de serem manipulados.

Quando for suficientemente rico, peça para seus discípulos organizarem uma doação de alimentos para campanhas beneficentes como Fome Zero ou Natal sem Fome. Certifique-se de chamar a imprensa ao fazer sua doação. Isso atrairá potenciais clientes e pode servir como uma lavagem de consciência (caso você tenha alguma. Se não tiver, esqueça).

Escreva sua auto-biografia aos 35 anos. Invente, exagere ou distorça detalhes que possam tornar a leitura mais interessante (afinal de contas, uma biografia notável deve ser fabricada com fatos notáveis, heróicos ou nobres, que nem sempre coincidem com a vidinha normal que você tem). Não esqueça de colocar-se como empresário muito bem sucedido e feliz (mesmo que não seja).

Uma dica importante: repita o processo inteiro ao perceber que o interesse do público está começando a esmorecer. Se for preciso, desta vez use um turbante e roupas indianas. Exija que seus alunos o chamem de "mestre". Nunca falha.

Texto de Pedro Kupfer

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O sentido da palavra Upanisad

Geralmente, a palavra Upanisad é interpretada da seguinte forma: upa, próximo; ni, abaixo e sad sentar. Quando estas interpretações se juntam, a palavra upanisad se refere a um conhecimento ganho ao sentar-se junto a um professor. Esta é uma interpretação possível. Mas o verdadeiro sentido da palavra é autoconhecimento, brahma-vidya. A identificação do indivíduo com Brahman.

Há três elementos “upa-ni-sad” na palavra. Sad é a palavra que surge do radical sad. Em sânscrito, um radical não é uma palavra. Cada palavra tem seu radical que traz o significado da palavra. Nomes e verbos geralmente são formados a partir destes radicais.

O radical sad tem três significados: visarana, desintegração; gamana, alcançar; e avasadana, destruição total. Sad desintegra algo. O que ele desintegra? Basicamente, ele desintegra tudo aquilo que você não quer na sua vida. Isto não inclui a sua sogra, ela é apenas um nimitta, um incidente. A verdadeira causa da sua tristeza e sua incapacidade de lidar com ela são desintegradas pela upanisad.

Ela desintegra todas as anarthas, as coisas indesejáveis. Suponha que elas retornem. Não, avasadayati, ela põe um fim a estas coisas. Avasadana significa destruição completa de todas as anarthas e as raízes de sua causa. É a destruição definitiva.

Tudo bem, mas não há nada de positivo aqui. O que ganhamos de forma positiva? Sempre gostamos do positivo. Positivamente Brahma gamayati, ou seja, algo que te conduz a Brahman, o absoluto, ilimitado. Agora você está interessado em conhecer o que é isto que faz todas estas coisas. Isso é revelado por upa-ni.

Upa e ni são prefixos. O prefixo upa, aqui, indica o agente de todas as ações acima. Upa significa samipe, próximo. A palavra próximo é bastante relativa. O que é próximo? Tudo aquilo que você considera próximo pode tornar-se bem distante ou remoto a partir de um diferente ponto de vista. Quando você olha para o sol a partir do ponto de vista das estrelas. O sol é a estrela mais próxima. O sol é uma estrela. O sastra (escritura) reconhece o sol como um símbolo de todo o universo. Pois estamos no sistema solar. Então a referência é o sol. A sruti diz: “Aquele que está no indivíduo e aquele que está em aditya-devata, o sol, são o mesmo.” (Taittiriyopanisad 1.8). Este sol está bem próximo se compararmos às outras estrelas. A partir da lua, este sol está bem longe. A lua está mais próxima. A lua está longe, Delhi é mais perto. Delhi está longe, a parede deste quarto está mais perto. A parede está longe, o gravador está mais perto. Este está longe, minhas roupas estão mais perto. As roupas estão distantes, o corpo está mais perto de mim. Até mesmo o corpo está longe. O pensamento que põe este corpo como objeto, está mais perto de mim. O pensamento está longe, “eu”, a primeira pessoa do singular, o sujeito que está consciente do pensamento é o mais próximo.

“Eu” refere-se ao atman. A palavra atman é sempre usada na terceira pessoa do singular. Mas o sentido da palavra atman, é a primeira pessoa do singular, que é, aham. “Eu”, aham, é o mais próximo. O mais próximo não é nem mesmo uma expressão correta. Porque o mais próximo implica em certa distância. Aqui, relativamente falando, referindo-se a tudo mais, atman é o mais próximo. Não há nada mais próximo do que ele, este é o sentido.

Sobre você, o sujeito, há confusão. O que você busca na vida é a si mesmo, o sujeito. Como pode ser? Tudo aquilo que busco não sou eu. Eu busco somente aquilo que “não sou eu”. Este é o verdadeiro problema. Nós temos que especificar realmente o que estamos procurando. Para isso o prefixo “ni” indica niscaya-jnana, conhecimento claro, exatamente sobre aquilo que você quer na vida.

Você quer somente Brahman, mas não pode ter, porque você já o é. Você não pode ser maior que Brahman, porque não há nada além de Brahman. Tudo aqui é Brahman. Este é você e não pode ser nada além de você. Brahman é o ilimitado, e isto é você. Você não pode se separar do ilimitado. Então, upa-ni significa Brahma-vidya, o conhecimento da unidade do indivíduo e Brahman. Para que isto? Isto destrói as anarthas. O conhecedor deste Brahma-vidya ganha Brahman. Ele ganha o absoluto. Absoluto significa que não há mais nada a ser ganho. Qualquer ganho além deste, é simplesmente pura diversão. A vida de tornar-se chega a um fim, porque não há nada para se tornar.

Texto extraído do livro Exploring Vedanta de Swami Dayananda Saraswati