domingo, 19 de dezembro de 2010

O Yoga e a cegueira da humanidade


Depois que me tornei praticante de yoga, ao passar por qualquer tipo de experiência tento ver as coisas sob a ótica de alguém que tenta colocar em prática os valores deste estilo de vida.

Tive o privilégio de assistir a uma peça de teatro, na qual alguns dos valores éticos que regem, ou ao menos deveriam reger a conduta da humanidade são colocados em discussão.

Baseada na obra literária de José Saramago, a peça “Ensaio sobre a Cegueira” fala de um surto de “cegueira branca” que atinge um vilarejo e rapidamente se alastra, afetando a todos.

Admito que não sou um grande leitor de outras coisas, atualmente, que não estejam diretamente ligadas ao meu estudo de yoga e vedanta, mas sempre que surge a oportunidade de ampliar meus horizontes não desperdiço a oportunidade, pois sei que logo traço um paralelo destas obras de literatura com meus estudos de yoga. Noto, inclusive, que no fundo os questionamentos são sempre os mesmos, apenas com focos ou nomes diferentes. É aí que percebo o quanto podemos aplicar tudo isso ao nosso cotidiano.

Para isso acabei convidando minha amiga, também praticante de yoga e atriz do espetáculo em questão, para escrevermos este texto a quatro mãos, com o objetivo de enriquecer ambos os lados da discussão.

A Ética e os Valores

O primeiro passo de um aspirante a yogi deve ser compreender e absorver certos valores éticos de conduta. No astanga yoga veremos isso através dos yamas e niyamas, os primeiros dois degraus desta longa via.

Yamas e Niyamas são as disciplinas dos órgãos da ação e da percepção e são comuns ao mundo inteiro. Não são especificamente indianas, assim como não se ligam apenas ao yoga, afinal ser um aspirante a yogi deveria ser sinônimo de ser um aspirante a melhor ser humano.

Ao falar de valores e ética trataremos de conceitos e princípios que se aplicam não somente a nós mesmos, mas principalmente na relação com tudo e todos à nossa volta. Na Enciclopédia Wikipedia, da web, a palavra Ética é descrita da seguinte maneira:

“A palavra ética é originada do grego ethos, (modo de ser, caráter) através do latim mos (ou no plural mores) (costumes, de onde se derivou a palavra moral). Em Filosofia, Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade.”

Já moral, define-se como um conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes e valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. Por isso moral e ética não devem ser confundidos: enquanto a moral é normativa, a ética é teórica e busca explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns.

Deve-se deixar claro, porém, que etimologicamente ética e moral são expressões sinônimas, sendo a primeira de origem grega, enquanto a segunda é sua tradução para o latim.

Em Filosofia, o comportamento ético é aquele que é considerado bom e, sobre a bondade, os antigos diziam que: o que é bom para a leoa pode não ser bom à gazela, e o que é bom à gazela, fatalmente não será bom à leoa. Este é um dilema ético típico.

Desta forma, o objetivo de uma teoria da ética é determinar o que é bom tanto para o indivíduo como para a sociedade como um todo. Os filósofos antigos adotaram diversas posições na definição do que é bom, sobre como lidar com as prioridades em conflito dos indivíduos versus o todo, sobre a universalidade dos princípios éticos versus a "ética de situação". Nesta, o que está certo depende das circunstâncias e não de uma lei geral. Já a bondade é determinada pelos resultados da ação ou pelos meios através dos quais os resultados são alcançados.

Ao viver em sociedade o homem convive com outros homens e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão central da Moral e da Ética, afinal a ética é o julgamento do caráter moral de uma determinada pessoa. Ser ético é não só fazer algo que te beneficie, mas também algo que, no mínimo, não prejudique o "outro".

A Ética e o Hatha Yoga

Um yogi logo começa a entrar em contato com estes princípios quando instruído por seu professor. E, ainda mais, quando entra em contato com suas próprias ferramentas de trabalho: o seu corpo e a sua mente.

Quando nos colocamos em uma prática de hatha yoga logo percebemos que nosso corpo se torna nosso instrumento para o aprendizado através da experiência. O que nos evidencia a importância de ter um corpo saudável e forte para praticar.

A princípio estas não seriam premissas para uma prática física de yoga mas, como veremos, um dos objetivos de ser um yogi é criar uma condição de extremo conforto para si mesmo, para que a prática seja proveitosa em todos os aspectos. Como já dizia B.K.S. Iyengar, “visto que o corpo é o local onde habita o Ser, ele deve ser tratado como o templo da alma”.

No tantrismo o corpo humano adquire importância jamais alcançada na história espiritual da Índia. A saúde, a força, o interesse por uma fisiologia assemelhada ao cosmos e implicitamente santificada são valores védicos e não pré-védicos. O tantrismo, porém, leva a conseqüências extremas a concepção de que a santidade só é realizável em um “corpo divino”.

Abolidos o pessimismo e o ascetismo upanishadicos e pós-upanishádicos, o corpo não é mais “fonte de sofrimento”, mas o instrumento mais seguro e completo que o Homem tem à disposição para “conquistar a morte”. E, visto ser possível obter a liberação a partir desta vida, o corpo deve ser conservado o maior tempo possível em perfeitas condições, precisamente para facilitar a meditação (Gheranda-samhita, I,8).

Nesta apreciação enfática do corpo humano e de suas possibilidades podem se distinguir pelo menos duas orientações distintas, mas convergentes:

1- a importância dada à experiência total da vida como parte integrante da sadhana (prática)

2- a vontade de dominar o corpo para transformá-lo em um “corpo divino” – posição sobretudo do hatha-yoga.

Tal domínio deve começar tendo como base um conhecimento preciso dos órgãos e suas funções, afinal “de que maneira os yogis que não conhecem seu corpo como [sendo] uma casa com uma coluna e nove portas, e presidida pelas cinco divindades tutelares, poderão atingir a perfeição?” (Goraksa sataka, 14).

O que se busca sempre é a perfeição e esta não é de ordem higiênica e nem atlética.

A palavra Hatha literalmente significa esforço violento, violência, e este nome surge por que a prática (visão tântrica) é vista de uma outra maneira. É necessário um determinado esforço para a transformação de um corpo ordinário em um corpo divino. É preciso Tapas, um desejo ardente de transformação. Este é o combustível que guiará o aspirante até seu objetivo.

Entretanto, além de Tapas, buscamos realizar também o valor de ahimsa, a não-violência. Ora, se hatha significa violento, então como aplicar ahimsa à prática? É preciso encontrar um ponto médio entre estes dois valores. Este ponto teria o nome de bom-senso, algo que surge da tua capacidade de fazer escolhas ou do seu livre-arbítrio.

Como em qualquer prática física, um praticante de hatha yoga está sujeito a lesões. Da mesma forma que se você caminhar sem atenção pela calçada pode sofrer um acidente, fazendo uma prática que requer um esforço físico você estará sujeito a se machucar. Se acontecem acidentes no yoga, a culpa não é do yoga, mas da agressividade ou da impaciência do praticante.

É comum ver centenas de pessoas medirem seu progresso na prática porque agora conseguem colocar as mãos no chão com os joelhos esticados. Outros se dão um prazo de tantos meses para colocar o pé atrás da cabeça ou ficar de cabeça para baixo.

E eu continuo me perguntando... Por quê? O que aconteceu comigo depois que fiz estas coisas? Garanto que continuo sendo a mesma pessoa, nada mudou. Quando me forcei, fui uma pessoa machucada e frustrada por não conseguir. No momento em que entendemos o “espírito da coisa”, aí sim podemos nos tornar pessoas mais felizes.

Não pratico yoga para me tornar um melhor contorcionista, nem para ficar com o corpo mais bonitinho. Novamente nos vemos aqui envoltos em uma prática repleta de valores. Como colocar tudo isso em cima do tapetinho? Como levar isto do tapetinho para a vida?

A que ponto chegamos

“Um valor é um valor para mim somente quando vejo o valor do valor como valioso para mim”. É assim que Swami Dayanandaji define um valor. Devemos primeiramente reconhecer a importância dos valores e somente então será possível colocá-los em prática na nossa vida.

Na história de Saramago fica evidente nossa capacidade de não enxergar nossas reais necessidades e assim acabamos por nos violentar e aos demais. Na peça, diante das condições em que se encontram, os personagens são obrigados a estabelecer novos códigos de conduta. Ao se perceberem cegos, famintos e sem as condições básicas de higiene, precisam descobrir uma nova maneira de se relacionar.

Ali estão todos cegos, são todos iguais. Se alguém era rico ou pobre antes desta cegueira, não faz a menor diferença, igualam-se todos nesta situação. Não podem mais ver se a pessoa que está ao lado é loira ou morena, bonita ou feia, homem, mulher ou qual o nome que ela tem. Saramago inclusive não dá nome aos personagens. São pessoas, apenas: o médico, o primeiro cego, a mulher de um, a mulher do outro.

Como é possível enxergar o outro se não o vejo? Somos obrigados a ultrapassar o mundo do concreto, do nominável. Numa situação como esta, o que importa é a necessidade de sobreviver e, diante disso, o que vale mais, um punhado de dinheiro ou um prato de comida?

Presos aos valores materiais, alguns cegos começam a exigir “peças de valor”, dinheiro, jóias em troca de comida. Depois, partem ainda a um extremo de violentar sexualmente as mulheres que ali se encontram.

Então me pergunto o que eles conseguem com isto, já que continuam confinados ali ainda cegos e presos em sua própria ignorância? Um cego que violentou uma mulher, com certeza não conquistou o amor desta e muito menos se realizou como ser humano tentando suprir sua carência de amor. E o dinheiro roubado, que função poderia ter naquela situação?

Cegados pelo nosso ego, às vezes nos violentamos demais (e aos outros) por objetivos que não trarão mudanças em nossas vidas. Como fazer para não passar por cima dos valores que realmente têm valor para nós?

Num momento em que a humanidade vive dias de insegurança e violência, em que acontecimentos movidos pelo ódio, pela intolerância e pela ambição se sucedem em várias partes do mundo, invadindo direta ou indiretamente nossas vidas, quais são os verdadeiros valores que devem nortear nossas ações? Em nosso cotidiano, quantas vezes nos deparamos com situações em que já não conseguimos distinguir o certo e o errado? Não conseguimos sequer definir onde está o Dharma.

Fazendo uma ligação com o que Patanjali diz nos Yoga Sutras:

Tada Drastuh Svarupe avasthanam, ou seja, aquele que vê (a si mesmo), se estabelece em sua própria natureza.

Neste momento somos colocados em pé de igualdade.

Assim como nos ensinamentos da Bhagavad Gita, somos todos um só. Nem mesmo um só “Deus”, mas somos somente “Deus” ou tudo o que existe é “Brahman”, se preferir. Mais uma vez, é apenas questão de dar uma nomenclatura àquilo que não tem nome. O que importa é o ser humano. Ou melhor, a sua essência, onde ele simplesmente é.

Ainda na Bhagavad Gita, Krishna diz a Arjuna que a partir do momento que se alcança o conhecimento, é impossível retornar à ilusão de um mundo apenas palpável, concreto e limitado. Expandimos os limites e ao enxergar, pagamos um preço por isso. O preço de quem olha e vê, o preço de quem sabe que a realidade é maior e, portanto, torna-se impossível satisfazer-se com o menor.

“Tomar consciência é atribuir um sentido, e isso implica desocultar o sem-sentido de certas coisas e evidenciar o sentido de outras, significa perceber-se como sujeito, com seus limites e muros e com suas janelas e portas por onde ver mais longe e sair para espaços mais abertos, significa negar e afirmar, fazendo escolhas, escolhendo entre valores, causas e companhias.” (José Saramago)

A partir do momento que eu enxergo o que me falta, me torno incapaz de permanecer no lugar onde estou. Torna-se necessário seguir adiante, romper o que tiver que ser rompido. A partir do momento que abro espaço para enxergar novas coisas, acaba o encanto de as coisas poderem ficar intactas. A realidade se abre, se mostra. O mundo amplia-se e vai além. A minha noção de “eu” torna-se outra.

Avidya (ignorância) – o maior dos obstáculos

Ao final da peça todos voltam a enxergar. A epidemia de cegueira acaba e todos os personagens simplesmente voltam a ver. Mas será? Será que ao findar esta cegueira de luz não voltamos todos para as trevas?! Será que ao recuperarmos a visão não voltamos imediata e automaticamente para o mundo das formas, do que já se conhece? Será que este foco de luz que Saramago coloca sobre a humanidade nos torna capaz de rever nossos conceitos?

É muito mais fácil seguir uma vida confortável, onde tudo já é conhecido e combinado, do que perceber o que é que falta, o que é que sobra, conseguir olhar para si e saber respeitar o que se precisa. Dá medo de sair de onde conhecemos, de enxergar o que não sabemos se estamos preparados para mudar. “O medo cega”, diz Saramago.

A cegueira branca desta história é uma cegueira que nos iguala, que nos faz enxergar quem somos. É como um foco de luz diante de todos os valores deturpados de uma humanidade que, ao ficar sem olhos, não sabe ver. Não sabe como agir, como ser, como viver. Ao tirar um de nossos principais canais de ligação com o mundo, Saramago nos obriga a estabelecer um outro contato com o mundo. Ao nos privar da visão, nos obriga a olhar com a alma.

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, esta coisa é o que somos”.

Pois bem, Saramago está certo. Assim como Patanjali e Krishna, na Bhagavad Gita. Ao final – e ao princípio! - somos todos iguais, somos todos sem nome.

Nós simplesmente somos.

Texto de Marina Palha, atriz e praticante de yoga e Bruno Jones

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Achado no Facebook

Não posso dizer que a citação realmente pertence ao David Frawley, pois a encontrei no Facebook.
Mas concordo 100% com ela.

‎"Existem dois tipos de yoga, o yoga tradicional e o yoga moderno.
O yoga tradicional é moksha, liberdade do sofrimento, do condicionamento, meditação com base no conhecimento, se conectar com a parte mais divina que você é.
O yoga moderno é basicamente asanas, um pouco de pranayama, e alguns mantras bacanas".

D. FRAWLEY

domingo, 12 de dezembro de 2010

The litigious yogi - Bikram Choudhury is trying to do to yoga what McDonald's did to food



ACCORDING to Patanjali, the great sage of yoga who lived in the second century BC, yoga is about bringing the mind to complete stillness and thus reaching liberation from mental delusions such as anger, egoism and greed. This may not be immediately evident if you are in a yoga class taught by Bikram Choudhury. Bikram—he prefers to go by his first name only—teaches a series of 26 postures in a room heated to 41 degrees Celsius, with mirrors on all sides for better views of the sweaty bodies. “What is yoga? Shit together,” he preaches through his microphone. “Bullet proof. Sex proof. Fire proof. Wind proof. Everything proof,” he says on another occasion. “If you can take my shit, one day you will become a better person.”

Bikram is to the yoga world what fast food is to the culinary world. He is supremely responsive to the needs of the modern, western marketplace (15m people practice yoga in America alone), and thus popular with the yoga “masses”. And he is looked down upon by yoga's gourmets, who tend to practice the Iyengar or Ashtanga style of yoga. Like B.K.S. Iyengar and Pattabhi Jois, two fellow Indians who are associated, respectively, with the gourmet schools, Bikram (www.bikramyoga.com) has found celebrity and wealth through yoga. In fact, judging by his fleet of Bentleys and Rolls-Royces and his villa in Beverly Hills, Bikram probably has the edge over his upmarket rivals.

His main claim to controversy, however, is that he seems determined to take the analogy to fast food to its logical extreme. Just as McDonald's franchises its branches, Bikram wants to franchise his style of yoga to the more than 900 studios around the world that were started by his former students. To this end, he has trademarked phrases such as “Bikram Yoga”, “Bikram's Basic Yoga System”, and so forth. And he claims copyright not only for his books and videos (where copyright is anyway automatic), but also for his “dialogue”—ie, what is in fact the teacher's monologue in a Bikram class—and for the 26-pose sequence itself.

At first, this intellectual-property strategy seemed to be just another of Bikram's wry jokes. Nothing of the sort had ever been attempted before. The closest precedent was an attempt in 2000 by a teacher of Pilates—a popular fitness method invented in 1914 by a German prisoner-of-war, Joseph Pilates—to enforce the trademark “Pilates” against another studio that used the name. The judge rejected that claim, ruling that Pilates had become a generic name, and thus not one entitled to protection.

Undaunted, in 2002 Bikram ordered his lawyers to start sending out “cease-and-desist” letters to Bikram studios, demanding that the owners stop infringing on his alleged property and start paying him money. Last year, Bikram made an example and sued one studio south of Los Angeles. That suit ended last June with a private settlement, but Bikram claimed a big victory on his website and ratcheted up his threats to all the other “impostors” out there. Suddenly, Bikram teachers everywhere, most of whom run small “mom-and-pop” businesses that make an unglamorous living, got scared.

A number of them responded by banding together in an alliance called—echoing the software battle of Linux against nasty Microsoft—Open Source Yoga Unity (OSYU) and hired their own lawyers. OSYU's stated purpose is to fight for the idea that “Yoga cannot be owned, transferred, franchised, trademarked or copyrighted.” In April, OSYU scored an initial victory against Bikram in a federal court in California, establishing its right to represent studio owners and preventing Bikram from going after them one by one before the legal concepts are clarified.

Bikram says that he is not, in fact, trying to franchise or copyright yoga as such, only his specific sequence of postures and way of teaching it. Thus he would admit that all the constituent parts of Bikram Yoga—the “asanas” (postures) and “pranayama” (breathing techniques)—have been in the public domain for about 5,000 years, since they were first painted on to caves and temple walls in India. But he argues that these asanas and pranayama are like musical notes or dance steps—public property to begin with, but private property once they form part of a song or ballet. Just as “Swan Lake” is no longer “Swan Lake” if you change its notes and steps, Bikram Yoga no longer delivers its health benefits, he claims, if you mess with his precise formula.

It should be said that, as with fast food, these alleged “health benefits” are themselves a matter of controversy. Some doctors, as well as many gourmet yogis, worry that the extreme and artificial heat in Bikram studios can lead to dehydration, over-stretching or worse. But put this debate aside for the moment, and give Bikram the benefit of the doubt.

Patently absurd

His problem now becomes one of legal logic. If Bikram Yoga is indeed, for legal purposes, akin to “Swan Lake”, Bikram might actually have a case. But Bikram himself does not claim that his classes are performances with inherent artistic or expressive value; instead, he boasts that their purpose is health. In legal jargon, that may make Bikram Yoga a “functional” process, which is an area covered by patent law, not copyright. Bikram has no patents and, even allowing for the eccentricities of America's Patent Office, no hope of getting any.

Bikram's licensing of his sequence, says Jim Harrison, a lawyer for OSYU, is thus less like selling the rights to a song and more like lecturing about the “Kama Sutra” and then trying to charge couples a fee every time they have sex in one of the positions. Or, returning to that fast-food metaphor, like Bikram writing a new recipe for hamburgers and then showing up at barbecues to charge the people flipping the burgers. Intellectual-property law is crucial to economic success. But extending it to yoga will—The Economist's spiritually enlightened, physically limber journalists hope—prove too much of a stretch.

Fonte: The Economist - http://www.economist.com/node/2765973

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Yoga, o quê? Para quê? Como? Para quem?

Yoga! Palavra que diz tanto a muitos e tão pouco a muitos mais. O que vem a ser o Yoga no seu sentido mais tradicional e profundo é algo que só o tempo, prática e estudo conseguem revelar.

O Yoga não é, certamente, fazer contorcionismo, não é uma ginástica exótica, nem levitar. O Yoga tampouco é uma técnica ou uma prática. Tudo isso são visões distorcidas e redutoras do Yoga. O Yoga é uma cultura que se estabelece numa visão da nossa natureza e num modo de vida coerente com essa visão. Neste sentido o Yoga é um meio e um fim em si mesmo. Por entre toda a diversidade humana é claramente perceptível que todo o ser humano busca o mesmo – felicidade. Não apenas nós, mas também os demais seres sencientes buscam o mesmo: afastar-se do sofrimento e perseguir e manter o prazer e felicidade. Enquanto animais e plantas se bastam com a segurança e a satisfação das necessidades básicas para serem absolutamente completos, nós não somos assim. Quando olho para as minhas cadelas não vejo que a Kali, que é negra, olhe para a Cuca, que é loira, e pense: Ah quem me dera ter assim o pelo mais longo e loiro… quem sabe devia pintar ou fazer umas madeixas…ainda por cima já estou cheia de brancas no focinho. É horrível! Por outro lado, a Cuca, que é menos de metade do tamanho da Kali, não pensa: quem me dera ser mais alta, correr com aquela delicadeza e elegância da Kali…acho que vou começar a andar em bicos de pés, quem sabe inventam qualquer coisa para me facilitar andar assim ou até uma operação…

Já o ser humano dotado de livre arbítrio, da capacidade de se auto-julgar, não se basta com a segurança e necessidades básicas para ser feliz. Queremos sempre mais! Primeiro a TV rectangular de grande ecran! Depois vem o plasma e o lcd e aquela mesma TV que me fez feliz em tempos tornou-se obsoleta, o que antes era bonito, tornou-se um monstro na sala e de cada vez que me cruzo com ela sofro e logo projecto a felicidade no plasma ou lcd. Há sempre uma cenoura à nossa frente que vemos nos ser acenada e a felicidade está sempre lá, mais à frente e nunca aqui. Este padrão é recorrente nas experiências que buscamos, nos objectos e nas relações. A questão que se coloca é se nós humanos alguma vez conseguimos encontrar essa felicidade e parar de buscar? Alguma vez nos sentimos completos?

O Yoga apresenta-nos uma solução radical para o problema e ensina-nos que nunca teremos sucesso nessa busca enquanto procurarmos extrair a felicidade do mundo, seja em objectos, experiência ou relações. O mundo tem uma natureza impermanente, tudo muda e portanto, ainda que consiga essa felicidade aqui e ali, da mesma forma que vem, vai. E invariavelmente, nos vemos no ponto de partida, não me sinto completo, falta alguma coisa para ser feliz, começo de novo a busca. O mundo é como uma cadeira de cartão numa loja de design. É bom para ser apreciado, mas não para nos apoiarmos. O Yoga mostra-nos que essa busca pela felicidade, pela percepção que nada falta, só pode terminar quando reconheço o que busco naquilo que está presente comigo a todo o tempo – eu, o sujeito presente em toda a acção e experiência. A plenitude não existe fora, a plenitude é o que sou, aqui e agora! O Yoga não promete, mas apenas revela o que está aí para ser compreendido, escondido sobre o manto da ignorância acerca da nossa verdadeira identidade. O Yoga é por isso uma tradição, uma cultura que aponta para a libertação do sofrimento, da percepção errada de que sou incompleto.

Esta tradição, um “fóssil vivo” como foi chamada, nasce na Índia, na cultura védica, é revelado nos Vedas e ali se encontram as raízes daquilo que desde então vem sendo desenvolvido. A época de composição dos Vedas é incerta, diz-se que terão 7000, 6000, 5000 anos, embora só mais tarde tenham sido reduzidos a escrito. Tradicionalmente falam-se em quatro tipos de Yoga: Karma Yoga, Raja Yoga (ou Upasana Yoga), Bhakti Yoga e Jñana Yoga.

Karma Yoga constitui-se de dois passos, a acção correcta e atitude correcta perante os resultados da acção. O Karma Yoga ensina-nos como agir no mundo de forma a criar o máximo de benefício para os demais seres vivos, ao invés de termos escolhas das nossas acções motivadas apenas pelo “umbigo”. Mais nos ensina a lidar com os frutos das nossas acções, a lidar com o momento presente, quer ele corresponda ou não às nossas preferências. O Yogí aprende a apreciar e reconhecer o momento presente como sendo o momento perfeito e essa aceitação vai criando um estado de equanimidade, de paz e serenidade. O Raja Yoga, sistematizado pelo sábio Patañjali nos conhecidos Yoga-Sútras, mas já conhecido nos Vedas com o nome de Upásana (meditação) Yoga. Naquela sistematização Patañjali enumera o sistema ético sobre o qual a prática do Yoga assenta e sem a qual a prática não produzirá o efeito pretendido, é traçado um caminho de conhecimento discriminativo e de meditação. O Yogí aprende a lidar consigo mesmo, os seus medos, obstáculos internos, as latências insconscientes que alimentam sem cessar o fluxo do pensamento e que ditam muito do que somos e fazemos. Nesse processo de exploração do universo interno tornamo-nos cientes do que somos.

O Bhakti Yoga desenvolve a relação entre o Yogí e a inteligência que permeia o Universo. Diz-se que o Bhakti Yoga é como um perfume que permeia todos os demais Yogas, e de facto, ele está firmemente presente em todos os demais. O Yogí reconhece que o universo não é um caos. Antes pelo contrário existe, uma Ordem infalível que subjaz a toda a manifestação e que se reconhece nas leis da Natureza como a lei da gravidade, o movimento das marés, a sucessão das estações do ano. O próprio facto da ciência ser possível revela-nos que existe uma Ordem no Universo passível de ser estudada. Essa relação com aquilo que está em todo lado, que intrinsecamente é o que também somos, caracteriza o Bhakti Yoga. Jñana Yoga é o corpo do ensinamento do Yoga, assente numa tradição e método de ensino, que consiste em ouvir o ensinamento, mantê-lo presente, eliminando dúvidas e contemplar a verdade desse ensinamento no dia-a-dia. Os demais Yogas preparam o praticante para que quando o ensinamento seja ouvido da boca de um Mestre, ele possa produzir o seu efeito e o Yogí se liberte da ignorância acerca da sua natureza, acerca de quem realmente é.

Tradicionalmente estes Yogas não eram apresentados como alternativos, mas sim como complementares e o praticante passaria por todos eles, com maior ou menor incidência em cada um consoante o período da sua vida.

Estas abordagens do Yoga foram-se desdobrando em muitas outras e nomes como Mantra Yoga, Kundalini Yoga, Tantra Yoga, Svara Yoga, Kriya Yoga e muitos outros tornaram-se famosos.

Hoje em dia, a maior parte do Yoga praticado em Portugal e no Ocidente cai na alçada do Hatha Yoga. O Hatha Yoga pode ser visto como um bebé na tradição do Yoga, uma vez que só se terá desenvolvido no sec. IX. Ao contrário dos demais Yogas Clássicos que se poderão dizer prontos, o Hatha Yoga continua a crescer e desenvolver-se. Se for experimentar uma aula de Yoga e se vir de cabeça para baixo, a tentar fazer aquilo a que se conhece vulgarmente como a ponte, a bandeira ou a pinça, o mais provável é estar numa aula de Hatha Yoga. O Hatha Yoga desenvolveu as posições com o corpo pelas quais o Yoga é hoje conhecido.

A verdade é que, no entanto, o Hatha Yoga não se reduz às posições com o corpo (ásanas). Longe disso, o Hatha estabelece-se como paralelo ao Raja Yoga. Poder-se-ia dizer que o Raja Yoga trabalha a mente com a força de vontade e o Hatha prevalece-se do prána (energia) para trabalhar a mente. Assim, o foco do Hatha é também, afinal, a meditação. Pelo caminho são definidos os princípios que norteiam a vida do praticante, o que fazer em sociedade e quando se está só; limpeza e purificação do corpo; força, flexibilidade e longevidade; manipulação da energia no corpo através da respiração e do movimento e permanência do corpo em determinadas posições associado a visualizações, e, finalmente, a meditação. O Hatha Yoga, compreendido no seu âmago, surge quase com um Yoga síntese de ensinamento, prática e meditação de que um bom exemplo é uma das suas escrituras, a Shiva Samhita. Existem vários estilos de Hatha Yoga. Dentre eles, alguns mais conhecidos por outros nomes como Iyengar Yoga, Ashtanga Vinyasa, Vinyoga, Shivananda entre outros. Os nomes surgem apenas para distinguir diferentes abordagens, às vezes remetem para um Mestre, outras vezes apontam para o foco na prática. Claro que alguns professores e escolas ensinam Hatha Yoga, mas não só, ensinam o Yoga como um todo. É verdade, também, que outras escolas procuram distanciar-se criando nomes que as distinguem de tudo o mais. São apenas estratégias de marketing que não alteram a verdade fundamental. Essa proliferação de nomes fantasia chega-nos em parte do Brasil, mas também dos E.U.A. onde as marcas de Yoga registadas se tornaram algo comum.

O Yoga é, em resumo, um mundo vasto e aliciante, abarcando visões aparentemente contraditórias, mas revelando sempre a plenitude do que já somos. Cabe a cada um descobrir esse mundo e perceber a verdade do ensinamento nele presente. Para a pergunta quem sou eu? O Yoga aponta a resposta e está aí para receber novos e velhos, homens e mulheres, atletas e sedentários, donas de casa e empresários. Na medida em que cada um dá ao Yoga, receberá certamente muito mais do que proporcionalmente. Assim, tem sido para mim e para aqueles que me servem de exemplo.

Texto de Miguel Homem. Professor de yoga em Portugal e editor do site http://www.dharmabindu.com/

domingo, 5 de dezembro de 2010

Desmistificando a devoção

Palavras como devoção ou devoto causam, na maioria das pessoas um certo embaraço, uma sensação de desconforto. Elas estão, geralmente, ligadas à uma crença dogmática e inquestionável, ou à existência de Deus. O devoto é aquele que acredita e que não questiona aquilo no que foi ensinado a acreditar. Porém, dentro do contexto cultural do Yoga, devoção é uma maneira (desapegada) de agir, e não simplesmente realizar ações ditas “devocionais”, como oferecer incenso, cantar mantras, etc.

Acontece que muitos de nós, praticantes de Yoga, também temos uma visão equivocada sobre o que seja devoção. Como hoje em dia tudo somente acreditamos naquilo que á tangível, a prática devocional dentro do Yoga tornou-se simplesmente aquela que é feita através de ações. Pensamos que devoção seja acender incenso, cantar mantras, fazer uma puja. Sim, todas são formas de devoção, mas devoção não é simplesmente isso.

Esta parte “mística” do Yoga chama-nos logo a atenção. Buscando soluções rápidas para as curas dos nossos males, nos jogamos de cabeça numa série de crenças irracionais que chamamos de “práticas devocionais”: enchemos a nossa casa de imagens hindus e incenso, e cantamos Hare Krishna.

Nós copiamos exemplos de nossos professores ou de imagens que vimos em alguns lugares e acabamos por repeti-las automaticamente sem nos dar ao trabalho de tentar compreender o significado das coisas. Digo que estas práticas são subjetivas, pois são crenças não verificáveis que pertencem a uma cultura estranha para nós. Lemos sobre rituais para o deus tal e para a deusa tal, e saímos copiando um comportamento que é interessante, mas que perde o significado se o tomarmos fora de contexto.

Assim como vemos nas primeiras práticas de ásanas, dentro do yoga, o que nos salta aos olhos são todas aquelas posturas extremamente difíceis, da mesma forma são os gestos rituais. Se não entendemos o conteúdo de cada um deles, tudo fica sem sentido.

Todos nós ficamos admirados quando assistimos a um ritual do fogo. Todo o desenvolvimento do ritual e seus pequenos e intrigantes detalhes. Tudo o que o sacerdote vai dizendo, seus movimentos e ações dentro do ritual. Mas se não entendemos do que se trata, estamos apenas repetindo certas coisas que ele pede para serem feitas ao longo do ritual.

É preciso não apenas repetir as palavras, mas entender o significado delas. Não é simplesmente jogar arroz no fogo, mas entender o que aquilo sugere.

A simples ação sem o conhecimento daquilo que está sendo feito não é válida.

A devoção na visão do Vedanta

A devoção na visão do Vedanta não depende apenas da ação, mas na capacidade de entendermos a causa de toda a criação e a capacidade de acomodarmos este conhecimento em nós mesmos. Antes de sairmos copiando nossas fontes de inspiração e ensino, deveríamos nos questionar se eles também sabem o que significa devoção e se são verdadeiros devotos.

Crenças e fatos

Ser um devoto não é simplesmente acreditar sem questionar. Nós entramos em contato com o conhecimento através de nossos professores. Esta é a primeira etapa, chamada sravanam. Nós ouvimos sobre aquilo que é o Criador e a Criação. Logo nos deparamos com uma questão que diferencia a visão ocidental da visão do vedanta que é a visão da dualidade e a da unidade respectivamente.

Na visão ocidental, existe um criador que está em algum lugar comandando toda a criação. A visão ocidental limita este criador a um ser especial, e portanto por limitar-se a um corpo que está em algum lugar, não poderia estar em tudo aquilo que foi criado.

Na visão ocidental, esta matéria que é a manifestação está separada do princípio criador.

À luz do vedanta 1+1=1, ou seja, criação e criador não estão separados. Aos olhos do vedanta o criador é aquele que permeia tudo aquilo que se manifesta e também tudo aquilo que não é manifestado.

Aquilo que se manifesta é a matéria. Ela é tudo aquilo que percebemos através de nossos sentidos e mente. Os elementos que compõem nosso corpo e toda a natureza (terra, água, fogo, ar e espaço). O principio desta manifestação é a inteligência que a criou a partir de si mesma (jagat karanam), a permeia e permite que ela se sustente, que ela seja consciente em si mesma. Ou seja, a causa é presente na matéria (criação, manifestação). Para que este conhecimento seja válido é preciso entender. Esta inteligência é representada por leis que mantém o universo do jeito que ele é (dharma). Isso não é mera especulação. A dúvida que nos afasta da compreensão desta inteligência é que na nossa cultura estamos acostumados a colocar este Ser inteligente em um lugar específico de onde ele tudo vê e governa.

Aí entra a segunda etapa da prática que é mananam, o questionamento.

Se eu existo como o indivíduo que sou, existe uma causa, um fato para isto. O fato é que para eu estar aqui, hoje, houve uma causa chamada meus antepassados. Isto é um fato, não é uma crença. Minha mãe pode ter me dito que se eu existo hoje é por causa dos meus tataravôs, lá trás.

Quando eu era criança, simplesmente acreditava, pois ainda não possuía os meios para questionar. Mas depois de crescido constatei este fato. Então o conhecimento é aquilo que me livra de uma especulação e me traz à realidade. Crença está sujeita a especulações. O fato, não.

Tudo bem, então já entendi porque fui capaz de desenvolver uma mente que questiona e entende a realidade da matéria. Mas como entender esta inteligência que permeia tudo isso? A resposta é nididhyásanam, a contemplação, a apreciação da minha essência. Tendo adquirido o conhecimento, agora é o momento de acomodá-lo, validá-lo para mim mesmo. E é ai que surge o verdadeiro devoto.

O devoto não precisa agir. Não precisa se fantasiar com mil japa malas, acender duzentos incensos ou ficar cantando mantras que nem um rádio o dia inteiro. O devoto é aquele que tem uma apreciação do Todo, uma compreensão do Todo e do que ele mesmo é, este Todo. O devoto é aquele quem executa as ações com o conhecimento do Todo. E não como um místico-hippie que especula e espera que em algum momento de seus “rituais cenográficos” surja uma “visão” do divino.

Por isso é tão interessante observarmos se nossos professores, mestres e gurus são verdadeiramente possuidores de conhecimento ou simplesmente imitadores de modelos que vemos em revistas e internet. Pois são eles que possuem a capacidade de despertar este devoto consciente que existe em cada um de nós. Podemos dizer, portanto, que devoção é conhecimento.

A Gravidade do Problema

Não é um maluco qualquer, em qualquer lugar, com quaisquer pessoas fazendo bobagens em nome do Yoga. É um professor em São Paulo, que já ministrou aulas para pessoas famosas, que cobra 3 mil reais por curso e que atrai pessoas de uma classe média alta do nosso fraterno e multicultural país. Quando um carinha qualquer faz uma bobagem qualquer, em qualquer lugar, com quaisquer pessoas, a merda não fede, pois não tem nenhum nariz apurado para sentir. Mas no caso aqui citado, a merda foi jogada no ventilador, e não apenas fedeu, mas respingou em todos nós, instrutores de Yoga.

O fato acontecido desse tal camarada que se diz instrutor de Yoga faz-nos pensar sobre a responsabilidade que temos enquanto professores e sobre a nossa união enquanto profissionais que trabalham com Yoga. Temos responsabilidades com a vida, a saúde, a integridade física e moral dos nossos alunos. Eu não estava lá para ver e como não acredito muito no que a TV e os jornais falam, e por isso não vou me prender a fatos que podem ter acontecido ou que aconteceram no retiro que levou pessoas à UTI. Mas vou resumir as minhas reflexões a respeito dos efeitos dos atos de uma pessoa dentro de todo o universo yogi.

Não há como limpar o que foi feito, pois seus efeitos foram muito longe, parou no Fantástico. O que podemos fazer é nos precavermos dos efeitos de outros atos antiéticos que possam acontecer e que sabemos que não apenas podem, mas acontecem. Esse não foi o primeiro, houveram outros e existem outros nesse momento ajudando a afundar a reputação do Yoga na nossa sociedade. A diferença é que este infeliz ocorrido caiu na mídia, mas outros talvez até mais graves não foram parar no Fantástico. Como instrutores de Yoga muitos de nós sabemos que existem grupos que deixam a ética de lado e fazem coisas tão absurdas em nome do Yoga.

Bom, o ocorrido talvez traga à tona o questionamento sobre a regulamentação do Yoga. Esse é o meu maior receio. É uma responsabilidade muito grande sermos professores de Yoga, por outro lado não há necessidade de qualquer tipo de exigência para exercer a profissão. É o bom senso e a ética que deve nos guiar, afinal de contas, estes devem fazer parte do conteúdo que passamos aos nossos alunos. Mas o que vemos é que a união entre a ética, a falta de bom senso e o Yoga podem ser uma combinação explosiva. E pode dar no que deu.

Apesar de não ter como limpar a bobagem que este instrutor de Yoga fez, quem, ao menos, vai ajudar a limpar a imagem do Yoga perante a opinião pública? Todos nós podemos e devemos, sendo éticos. Mas isso não é o suficiente. Ser ético dentro do Yoga não é mérito algum. Numa sociedade onde a ética está em crise, podemos até pensar que ser ético é um grande mérito. Não é. Sendo éticos estaremos apenas fazendo o nosso trabalho, o nosso dever. O que devemos fazer é nos unir. É, apesar de termos vozes dissonantes, podemos falar a mesma língua. A língua de pessoas que estão unidas em torno do Yoga, do trabalho com o Yoga.

Quando acontece um erro médico, o conselho de medicina tenta se retratar para procurar resgatar a credibilidade dos profissionais da área. O mesmo acontece com outras profissões. E com o Yoga, quem pode falar em nome do Yoga? Todos nós podemos falar e ser ouvidos, se estamos unidos. Não defendo aqui a institucionalização do Yoga, questiono apenas a união de seus profissionais em prol da ética e da responsabilidade.

Os professores de Yoga hoje encontram-se reunidos em pequenos grupos que brigam, criticam-se e competem. Historicamente é assim, desde que o Yoga começou no Brasil. Pesquisem sobre a história do Yoga no Brasil e confirmem. Não são poucos grupos, são muitos, mas são pequenos e desunidos. Estes pequenos grupos, se juntos, reúnem um número muito significativo de pessoas, pois são milhares os instrutores de Yoga trabalhando no Brasil. Mas separados como estão, incluindo este que te escreve nesse momento, não tem representatividade alguma. Pessoas desunidas são apenas pessoas, indivíduos que se desentendem entre si. Pessoas unidas têm representatividade e voz pública. Quem irá falar pelo Yoga nesse momento? Todos nós podemos e devemos.

Escrevamos para os jornais, para as revistas, para o Fantástico e vamos dar a nossa opinião, vamos nos defender e defender o Yoga. Isso é o mínimo que podemos fazer nesse momento.

Porém, quando a poeira desse acontecimento abaixar, vamos refletir sobre a união dentro do Yoga. União para além da institucionalização. Porque se não estamos unidos, não temos representatividade e quem está unido tem. E talvez quem esteja unido hoje dentro do mundo do Yoga no Brasil sejam as pessoas menos recomendadas a falar por todos nós, pois estas são capazes de levar a reputação do Yoga a um nível mais baixo do que este professor conseguiu fazer. E aí, quando algum outro escândalo acontecer e notícias saírem nos jornais sobre escândalos, referindo-se ao Yoga com uma linguagem muito próxima a que se referem a seitas como a de Jim Jones, quem falará pelo Yoga? Quem falará por nós, instrutores?

Texto do amigo e irmão Yogi de Aracaju - Floripa, Tales Nunes