quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Faça arder!!



Tentei. Juro que tentei manter minha mente quieta ao presenciar mais uma experiência não tão agradável com o que algumas pessoas chamam de prática de yoga. Tentei manter os meus preconceitos a parte, mas os instintos básicos berravam com toda força dentro de mim. Pediam por sobrevivência. Como poderia eu sobreviver àquela sessão de espancamento gratuita, até então dita, yoga.

Argumentos vêm e vão, mas nada mais me tira da cabeça de que certos tipos de prática são torturas. São humilhantes...desagradáveis.

Não me imagino permanecendo por tempo prolongado em uma postura que meu corpo não comporta. Tudo bem, existe inicio, às vezes a gente pena para construir uma base mais sólida, criar força para se sustentar, mas temos que realizar que certas coisas estão além das nossas limitações!! Ahimsaaaaaaaaaaa!!!! O Pilar da prática, do Dharma.

Até certo ponto estou começando a achar uma grande irresponsabilidade dos profissionais que exigem dos alunos coisas que eles possivelmente nunca farão. Um corpo não foi feito para realizar todas as posturas e é preciso respeitar isso!

Asana é conforto. Patanjali já definia isso nos yoga sutras. Se não há conforto, como vou poder experimentar o momento presente ao máximo? Vou poder, sim, experimentar dor máxima, e com o tempo, uma possível lesão muito séria.

Se começamos a prática invocando o mantra Om, não adianta de nada continuá-la apenas invocando, agora, nomes de músculos, articulações e ossos.

Outro problema é que nenhum praticante iniciante é obrigado a saber destes nomes todos e muito menos reconhecer estas partes do corpo através de tapas bem fortes e estalados.

É muita informação para uma pessoa, que ainda tem que olhar para o professor e, sobretudo, continuar respirando...tem aqueles que acabam esquecendo.

Então aquele momento de reflexão, de compreensão sobre a sua própria natureza, se torna uma sessão de anatomia aplicada com tapas, voz estridente e alta, caras feias, resultados de dores e ás vezes até com requintes de crueldade. “Mantenha a postura e faça arder!!”

Voltando um pouquinho, se começamos a pratica invocando o Mantra Om, isso quer dizer que estamos refletindo sobre o Ser. Om é Shabda Brahman, ou seja, a forma sonora do absoluto.

Om nos remete àquilo que somos. É um lingam, ou seja, algo que nos mostra a direção de nossa caminhada.

E para realizar a nossa própria essência, é preciso conforto, é preciso assentar o corpo, aquietar a mente, e não agredi-lo.

Corpo e mente são suas ferramentas para a meta última do Yoga que é Moksa (liberdade). Então cuide bem delas.

Lembre-se: não existe só uma forma de praticar, existe a sua forma, a mais adequada ao teu momento, às tuas limitações. Saiba respeitá-las e poderás praticar por muito tempo.

Questione sempre, pergunte, tente aprender sempre mais. Não somente de um professor, não somente de uma marca ou rótulo de Yoga. Estude, faz parte. Procure suas respostas, ouça o que vem de dentro de você. Yoga é yoga e pronto. Mas acima de tudo é liberdade, paz e conforto em si mesmo.

5 comentários:

  1. Olá Bruno,

    Gostei muito do texto e tenho uma dúvida... Como fica a relação entre se sentir confortável e a pratica do auto-esforço?

    Pergunto isso pois existem algumas posturas ou uma sequencia delas que me exigem uma certa dose de esforço muscular e mental para me manter... esse esforço é suportável e não me faz sentir dor mas certamente também não me sinto plenamente confortável no momento que as pratico.
    Nesse caso acho que o auto-esforço é saudável e proporciona o avanço da prática ao longo do tempo.
    Hoje posso não me sentir confortável em determinada postura, mas se eu me esforçar, sem violência e respeitando meus limites, com o tempo o conforto na postura virá!

    Seria isso?

    Obrigado desde já!

    Grande abraço

    João

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  2. Olá João,

    Obrigado pelo seu comentário.
    Parece que você respondeu à sua pergunta no final do seu comentário.
    Acho que existe um ponto médio entre esforço e não-violência chamado bom-senso. E este deve ser o nosso "guia" no desenvolvimento dos ásanas.
    Quando Patanjali inicia o Capitulo 2 dos Yoga Sutras ele diz: "Tapah svadhyayesvara-pranidhanani krya-yogah". Esta é a definição que ele dá para as ações em Yoga, ou seja, a prática. Esforço, capacidade de auto-observação e também a capacidade de acomodar os resultados das nossas próprias ações à partir da compreensão da nossa natureza individual e nossas próprias limitações.
    E isso não se resume só aos ásanas, mas à todas as nossas ações cotidianas.
    Por isso, empenhe-se, claro, mas sempre tenha em mente que a postura em si não é um fim, mas um meio para você avançar confortavelmente em sua prática. Deixe sempre espaço para a reflexão e conhecimento.
    Harih Om!!

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  3. Fico feliz com textos assim.
    Nos chama atenção para a essência do yoga.
    Ainda não sei o que é a essência do yoga, mas acho que estou aprendendo o caminho até lá.
    Gracias.

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  4. Pô, escutei exatamente isso de um grande professor q depois de anos de ensinamentos disse aos seus alunos q aquilo era 'uma violência'. E ele não tratava os alunos a tapas e pontapés... Professor conhecido, respeitado por todos, com um baita centro de iyengar... mas como o próprio diz, Lecionar não é fácil, mas é o melhor a fazer... P&L

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  5. Belo texto reflexivo, Jones!

    Ahimsa!!!

    Auto-compreensão, auto-analise, self-love - primeiramente. Se conectando com seu próprio corpo físico e sutil.

    Self-respect! Não significa - se acomodar, apenas conhecer seus limites - no momento presente.

    *Jahara

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