domingo, 3 de outubro de 2010

Yoga paliativo ou Yoga como essência?


O Yoga dentro do seu contexto original é “classificado” como um darshana, ou seja, um ponto de vista, uma maneira de conduzir a vida através de um código de disciplina e certas regras.

Conduzir uma vida, compreendendo isso no seu aspecto total e não apenas em determinados segmentos.O que vemos no yoga atual é sempre isso. Uma aproximação segmentada.

Pratica-se para resolver “problemas” como força, flexibilidade, disfunções da coluna, problemas respiratórios, estresse...e por aí vamos.

Não que as práticas físicas de yoga não sirvam para isso. Aliás, servem muito bem. Mas percebo, nesta visão, um yoga paliativo e não um yoga como ele realmente é.

Não consigo encontrar nos shastras passagens que discorram sobre a cura da asma ou das hérnias de disco como metas da prática, da vida de yoga.

A visão de textos importantíssimos para um estudante de yoga, como a Gita ou as Upanishads, não passam nem perto disso.

E se o estudante, mesmo assim, não for muito “fã” destes textos de Vedanta, podemos ir mais para o lado das práticas e literatura tântrica.

Podemos pesquisar no Hatha Yoga Pradipika, na Shiva Samhita, ou Gheranda Samhita...não vamos encontrar isso.

A prática, nestes textos, com certeza é muito mais voltada para o aspecto físico, mas nem por isso, entra em detalhes tão mínimos, e em minha opinião tão insignificantes quanto os que têm sido abordados pela maior parte da mídia e alguns professores.

Nestes textos fala-se, sim, de criar um corpo forte e saudável. Um corpo divino ou um corpo de diamante.

Mas existe aí, um objetivo maior: “vencer a morte”.

Vencer a morte pode ser encarado de duas formas:

No caso físico, significa prolongar o tempo de nossas vidas neste corpo que possuímos para que nossa experiência, prática e estudo sejam mais longos. Que tenhamos mais tempo para conhecermos a nós mesmos. Mas não o conhecimento pessoal como indivíduos limitados, mas como somos em essência, livres e plenos.

O que nos leva ao segundo aspecto da vitória sobre a morte, que significa a vitória sobre a ignorância.

A Gita fala sobre isso: “Satyam evam jayati”. A conquista da verdade.

Conquistar a verdade é colocar em prática um conceito muito pouco falado nas práticas de yoga hoje em dia: svadhyaya. A contemplação de si mesmo.

Afinal de contas, quando sentamos em uma postura meditativa e nos propomos uma prática de yoga, a investigação começa. O que estamos fazendo ali?

Se você não souber responder esta pergunta, com certeza ainda tomará algumas “doses” de uns remedinhos chamados ásana ou pranayama.

Talvez você melhore a condição de sua bronquite. Talvez você sinta um alívio nas dores nas costas. Talvez você se ache o máximo porque agora teu trikonásana está bem alinhadinho ou consiga ficar de cabeça para baixo, sem ao menos ter aprendido a necessidade disso.

Mas aos olhos do yoga de verdade, você continua sendo a mesma pessoa. Ainda perdida em seus questionamentos, desejos e objetivos.

Apenas arranhando a superfície da vida de yoga.

Deixando de lado o “problema fundamental”, que é atma vichara, o questionamento sobre aquilo que somos, e que quando é realizado, é realmente aquilo que nos traz conforto: Moksha, a liberdade.

Como disse Pedro Kupfer: “O yoga é como uma grande árvore que generosamente nos oferece seus frutos. Alguns de nós contentam-se em colher os frutos dos galhos mais baixos. Outros se aplicam à disciplina e colherão os frutos mais raros e mais maduros dos galhos mais altos.”

2 comentários:

  1. Oi Bruno!!!

    Tenho lido seus texto...É ler e refletir...tem me chamado em muitos aspectos e isso é muito bom!!!

    Bjs, tks!

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  2. Pode ser que se chegue na prática de yoga para resolver algum problema pontual, é quase sempre assim que acontece. Mas aí algumas pessoas "despertam", procuram a verdade e o que tem por detrás. Outras poderão passar a vida praticando ásanas, até mesmo meditação, esperando que algo surpreendente aconteça, algo fora do comum, uma transformação milagrosa. Sorte ou merecimento de quem se depara com pessoas interessadas e sérias, que apontam o caminho. O professor, o bom professor é essencial para a prática deixar de ser paliativa para ser de verdade! Tks! Beijo grande!

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