quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Satyam Jnanamanantam Brahma

Om brahmavidapnoti param

tadesabhyukta

satyam jnanamanantam brahma (Cap II Brahmavalli - Seção I)

"Aquele que conhece Brahman, "alcança" o mais alto

Então, é dito:

Brahman é existência, conhecimento e plenitude."

O objetivo do estudante dos Vedas é Moksa. A total eliminação do samsara.
A morte não é o fim do samsara. Pois após a morte há um novo nascimento, mesmo que seja em outro nível (loka).
O samsara também não é sinônimo de estar vivo. Estar vivo não é um obstáculo para Moksa. E mesmo os obstáculos e dificuldades da vida não são a fonte do sofrimento, pois ela seria completamente monótona e sem objetivo não fosse por estas superações.
A verdadeira causadora do sofrimento é a mente, pois ela projeta as expectativas em relação a desejos inúteis.
As expectativas têm como base a ignorância em relação a quem eu sou.
Objetividade frente a vida e o entendimento da Realidade é que elimina o samsara.
Na frase Brahman é existência, conhecimento e plenitude, as palavras não qualificam Brahman, mas indicam (laksanam) através de pontos claros na direção do objeto a ser conhecido.
A princípio, vemos Brahman como um objeto a ser conhecido, diferente daquilo que somos. Então a primeira frase do verso se torna clara: Aquele que conhece Brahman, "alcança" o mais alto.
Na verdade, não se alcança aquilo que já sou, mas me dou conta. Assim como na história do décimo menino perdido.
Dez meninos atravessavam um rio. Um deles era o responsável pelo grupo todo. Ao chegarem ao outro lado da margem, o menino responsável começou a contar para ver se todos estavam ali. Quando contava, só chegava até ao nono. Foi ficando desesperado por achar que um deles tinha sido arrastado pela correnteza. Vendo o desespero deste menino, um senhor aproxima-se e lhe pergunta o que lhe deixava tão aflito. O menino lhe explica a situação. Vendo tudo de forma clara, o senhor então lhe mostra que ele está esquecendo de contar a si mesmo. Portanto nunca chegava ao décimo.
Nesta narrativa, claramente vemos que não houve a criação de um décimo menino. O menino simplesmente se dá conta daquilo que ele já é. Há o entendimento. E este entendimento não é fruto de uma ação.
O conhecimento já traz embutido em si mesmo um resultado que não é diferente dele mesmo. Enquanto que a ação precisa ser feita e traz o seu resultado como um objeto diferente dela mesma (karma-kartam-karana).
Mesmo agindo, ainda há o risco de que o resultado não seja o esperado.

O resultado da ação é de 4 tipos:

1. A criação (utpati) – uma ação pode criar uma coisa nova.
2. Purificação (samskara) – a purificação do corpo
3. Modificação (vikara) – a modificação de um objeto
4. Alcançar alguma coisa (apti) – se mover de um lugar para outro

Estes resultados são todos diferentes de moksha. Há obras na nossa tradição que falam sobre as ações como formas de se alcançar um resultado. A Katha Upanisad, por exemplo, diz que “pelo caminho do sol, se alcança um resultado”. Mas em nenhum eles dizem que este resultado é diferente do que você já é.

A tradição, Shruti, nos fala sobre certos rituais, que podem gerar resultados desejáveis. Mas apegar-se constantemente a estes resultados mantém a pessoa condicionada. Ela age pelo desejo de alcançar aquele resultado que lhe traz conforto ou prazer (artha ou kama).

Atma não é um lugar ou objeto a ser alcançado, pois já está em todo lugar. Então como posso dizer: “ir para algum lugar?”A pessoa que está indo e o lugar que ela vai, são a mesma e única coisa. O problema é não reconhecer isto.

Através deste argumento entendemos que moksha não é algo a ser alcançado. Moksha é meu estado natural. Porque um objeto a ser alcançado é sempre diferente de mim, ou seja, limitado. Um lugar que seja para ser alcançado por um “viajante” para onde ele está indo, deve ser diferente do viajante. Pois senão, não há a necessidade de ir a lugar algum.

O papel do Veda é revelar aquilo que os nossos sentidos e mente não podem e não conseguem perceber. Veda é pramana para o Ser. Veda toca em dvaita e advaita: o que é não-dual, e o que é dual. Sem negar a dualidade da nossa existência individual, o Veda é autoridade para a revelação daquilo que não é dual.

O argumento do karmata é que eles dizem que existem textos que falam sobre o valor da ação. Como o Veda fala sobre ação, eles dizem que os jnanis estão indo contra o Veda. A Shruti fala em ir (gati) como o fruto da ação. São as partes dos Vedas que falam sobre as grandezas (ausvarya) alcançadas pelas ações. Então os karmatas dizem que o argumento dos jnanis é contraditório. Mas para os jñanis, qualquer outro lugar (lokah) que se alcance é apenas transitório e, portanto não é moksha.

Estes textos que falam em gati estão apenas focando no fruto da ação (karya Brahma). Então os objetos alcançados também são Brahma. Mas isto não é o fim. O Veda vai mais fundo. Então não se pode considerar somente esta primeira etapa.

Na verdade a realidade é uma só, não seguida de uma segunda. E neste conhecimento se vê que Brahma é a realidade única, apesar das diferentes manifestações. Este é o ensinamento da Sruti. Qualquer tipo de combinação entre ação e conhecimento é impossível porque a natureza de ambos é oposta.

O conhecimento é aquele que o assunto é a dissolução total do objeto e suas diferenças. O conhecimento mostra que as diferenças são apenas ilusórias. E em relação à ação o conhecimento se opõe. A ação é alcançada através de alguém, ou seja, alguém faz alguma coisa para alcançar um objetivo. Então neste caso vemos 3 objetos diferentes (ator, ação e objeto a ser alcançado).

Quando se fala em conhecimento não há diferença, pois aquele quem conhece, conhece a si mesmo. Todo este raciocínio vai nos levar a conclusão de que um destes dois é falso. E o que é falso é o dual, pois é aparente.

Tudo bem que a dualidade existe, é natural, mas não é real. A dualidade é fruto da ignorância e por isso mesmo dizemos que ela é real. A Sruti fala em dualidade, ela apenas supõe que a realidade poderia ser dual, mas nunca a aceita.

Na visão dos Vedas, as ações são apenas uma sadhana para antahkarana shuddhi, que por sua vez, ainda é, apenas, uma preparação da mente para o conhecimento.

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