segunda-feira, 18 de junho de 2012

Eu amo meu ego!




Esta frase pode parecer bem estranha, quando a dizemos no meio do Yoga.
Mas é graças a ele que estou aqui, agora. Foi através dele que fiz minhas escolhas a vida inteira. Foi através dele que criei minha identidade na sociedade e posso ser quem sou. Portanto, tenho que gostar muito do meu ego.

Existe um preconceito muito forte em relação à esta palavra. Dizer que você tem um ego, ficou tão agressivo ou pejorativo quanto dizer o que se dizia há anos atrás sobre minorias étnicas ou opção sexual.

Na verdade, o que houve foi uma grande confusão causada por maus professores, que, na tentativa de manipular mais facilmente a mente de seus alunos, começaram a espalhar esta idéia.
Ora, se não tenho a capacidade ou discernimento de fazer uma escolha, acabo aceitando o que é dito, ou, pior ainda, deixo escolherem por mim.

É necessário entendermos que o ego não é bom, nem ruim em si mesmo. Ele apenas cumpre uma função em nossas vidas. Escolher.

Como disse no primeiro parágrafo deste artigo, é através do ego que faço minhas escolhas. Se não fosse por ele, não sairia da minha cama todas as manhãs. Não conseguiria escolher minhas roupas, nem o que fazer.

É através do ego que consegui formar minha personalidade. É através dele que consigo interagir com o mundo.

O ego é esta noção de eu que me estabelece como um indivíduo. A ele se atribui um nome, características físicas, emocionais e sociais, através dos quais eu consigo me reconhecer.
Imagine se não houvesse nomes? Como chamaríamos uns aos outros? Imagine se não houvesse diferenças físicas ou emocionais entre todos nós? Qual seria a graça da vida, sendo tudo igual?

Por causa do ego, podemos ter profissões diferentes, idéias diferentes, podemos cumprir diferentes papéis, e desta forma, construirmos uma sociedade onde cada um contribui de uma forma diferente.

Segundo a visão do Vedānta, nós somos dotados de uma ferramenta bastante especial para nos relacionarmos com o mundo. Em sânscrito, ela recebe o nome de antaḥkāraṇa, ou instrumento interno.

A grosso modo poderia ser traduzido apenas como mente. Mas esta mente é subdividida em quarto partes com diferentes funções, Segundo Śri Śaṅkarācārya, no Tattvabodhah.

“A partir do aspecto sáttvico dos cinco elementos, nascem a mente (manas), intelecto (buddhi), ego (ahaṅkāra) e memória (citta). Estes formam o antaḥkāraṇa.”
“A natureza da mente é a dúvida”.
“A natureza do intelecto é a decisão.”
“A natureza do ego é esta noção de que eu faço.”
“A natureza da memória é guardar aquilo que já foi vivido.”

Depois de explicar a natureza de cada um, Śaṅkara, explica também como cada um funciona e se comporta relacionando-os com determinados atributos de certas deidades.

“A deidade que preside a mente é a lua.” (pois assim como a lua, a mente tem fases).
“Brahmā é aquele quem preside o intelecto.” (já que a partir de decisões, objetos e situações são criadas).
“Rudra preside o ego.” (através de nossas ações, promovemos mudanças).
“Vāsudeva preside a memória”.  (Vāsudeva representa a manutenção).

Portanto, não é interessante este conceito de dissolvermos ou destruirmos o ego. Esta foi uma idéia mal colocada, por maus professores, que tinham o intuito de moldar a mente de seus alunos à sua forma.
Estes mesmos professores afirmaram que estas disciplinas estavam contidas nos Śāstras e era o objetivo de uma vida de Yoga.
Na verdade, não há nenhuma história destas nos Śāstras, e também sabemos que o objetivo de uma vida de Yoga é autoconhecimento.

Para podermos desfazer esta confusão, podemos recorrer à algumas escrituras que lançam luz sobre esta questão. Um exemplo clássico desta confusão é o segundo sūtra de Patañjali sobre o Yoga. Na maioria das traduções, sempre vemos que o sūtra é traduzido ao pé da letra e não acompanha um comentário de um professor que esteja, de fato, ligado à Tradição.

A tradução do sūtra acaba ficando sem sentido. “Yoga é a cessação dos movimentos da mente”. Ou o “controle dos movimentos da mente”. Quando analisamos esta afirmação com cuidado, percebemos que é um acontecimento impossível. A não ser que estejamos em sono profundo ou inconscientes. Outra coisa impossível de ser feita, é controlar o que será pensado. Nenhum de nós tem esta capacidade. Os pensamentos simplesmente vêm. Portanto, Patañjali estaria equivocado ou somos nós que não tivemos clareza suficiente para compreendermos sua idéia?

Temos que compreender que a literatura dos sūtras, exclui tudo aquilo que é excessivo em sua escrita para facilitar sua memorização. Portanto, passando os olhos, sem o devido cuidado sobre o texto, pode deixar lacunas abertas.

yogaścittavṛttinirodhaḥ || 2 ||
“Yoga é a cessação [da identificação] com os cittavṛttis”.

Aqui Patañjali define o que é esta disciplina chamada Yoga. Normalmente este sūtra é traduzido como o “controle da mente”, mas novamente temos que atentar para o que é este controle. Na palavra nirodhah, está o radical rudh. Rudh significa controlar sem esforço. Controlar naturalmente. Usando o esforço quando necessário. Mas mesmo entendendo este radical, a compreensão deste sūtra fica um pouco superficial.

Na Bhagavad Gītā, Kṛṣṇa define o Yoga da seguinte forma:

Tam vidyādduhkhasaṁyogaviyogaṁ yogasañjñitam sa niscayena yoktavyo yogonirvinnacetasā. (Cap 6, 23)

“Que seja sabido que esta dissociação da associação com a dor é chamada Yoga. Yoga deve ser seguido com determinação e sem uma mente que tenha indiferença.” O sofrimento é fruto de nossa identificação com os vrttis (julgamentos, pensamentos, projeções...).

Quando me identifico com um destes objetos, automaticamente me vejo limitado à forma e atributo que vem junto deste.
E este é o problema que podemos ter em relação ao ego. O ego se atribui as diversas qualidades. Mas eu devo entender que são qualidades do ego, e não minhas.

É verdade que diversas vezes, nas nossas vidas, nos vemos fortemente apegados a estes atributos, e fazemos todo o esforço possível para não perdê-los.

Neste momento, a disciplina do Yoga se mostra valiosa, pois é através do autoestudo que começamos a discernir quem somos e quem pensamos ser.

Através desta disciplina há um esclarecimento de quem sou eu e quem é o ego.
O eu é sempre livre, imutável e nada faz. Portanto também não se relaciona com o resultado das ações. O ego é quem faz. Por isso em sânscrito é chamado de ahaṅkāra, ou, o eu que faz. Este sim, por agir, lida com os resultados de suas próprias ações.

Uma das coisas mais difíceis, para todos nós, na vida, é saber lidar com os resultados das nossas ações.
Sempre que agimos, pensamos ter o poder sobre o resultado da ação. E, pior do que isso, nos qualificamos Segundo estes resultados.
Quando um resultado é favorável, nos achamos vencedores, pessoas de sucesso. Ficamos felizes, pois apoiamos aquilo que somos nos resultados.

Da mesma forma, quando um resultado é “desfavorável”, nos classificamos como incapazes, e ali nos tornamos pessoas infelizes.
Usei as palavras favorável e desfavorável entre parênteses, porque na verdade esta qualificação é feita pelo ego. Pelos gostos e aversões que possuo na vida. Na verdade um resultado é apenas um resultado. E pessoas diferentes podem qualificar um mesmo resultado de formas diferentes. Portanto o problema não é o resultado em si, mas como me identifico com ele.

O ego, quando não cumpre o seu papel devidamente, faz com que nos tornemos pessoas exageradamente exigentes.
Estes padrões de exigência são impostos pela sociedade. Seja forte, belo, rico, etc…
Mas estes padrões se estabelecem apenas quando há comparações. Seja forte, mas qual é o parâmetro de força? Seja rico, mas o que indica riqueza? Só quando há comparação. Sou mais forte que fulano, sou menos rico que beltrano.

Não há nada de errado em ser rico, pobre, alto, baixo, gordo, magro e etc. Quando eu entendo que todos estes são atributos do ego e que se modificam constantemente. Quando tenho este entendimento, me dou conta  de que apesar de todas estas mudanças, a pessoa que eu sou, jamais se modifica.

Para conquistar este entendimento, é necessário maturidade, clareza. É necessário também querer este conhecimento.

Há um exercício bastante simples que podemos fazer todos os dias. Bastante familiar para aqueles que já praticam Yoga.
Ao final de uma prática de āsanas, sempre há um momento dedicado ao relaxamento. Neste momento, fechamos os olhos. É neste momento que deixamos de fazer uma das comparações mais fortes que geralmente fazemos, que é a visual.

Agora ninguém está olhando para você, e você não olha para ninguém. Ninguém está te julgando, tampouco você julga. Ninguém está se comparando. Ninguém está exigindo que um papel seja desempenhado de sua parte, nem você, de outra pessoa. Você não exige nada de si mesmo. Você é apenas você. Esta pessoa tranquila. E esta tranquilidade não é fruto de nenhum esforço. Esta tranquilidade se revela quando você ser permite ser quem você é.
Você não é o indivíduo composto por atributos sutis e densos. Você apenas é.

O julgamento é outra questão ligada ao ego que incomoda muitas pessoas. Já cansei de ouvir a famosa frase: “não julgo”, ou então me dizem: “não julgue! Você é um professor de Yoga!”

O julgamento é uma faculdade do ego. E todos nós estamos julgando o tempo inteiro. Não há vida sem julgamentos. É através do julgamento, feito pelo ego, que estabeleceremos o que faremos, como nos vestirmos e etc. Por isso, eu julgo, tu julgas, todos julgam!

Novamente, aqui, temos que esclarecer que o julgamento não é bom, nem ruim em si. É apenas o que o ego tem que fazer. E ainda bem que isso acontece, senão nada seria feito nesta vida.

Por isso o julgamento é necessário. E necessário também é aprender a não se ver como o julgamento que você faz. Você é uma coisa, o julgamento, outra.

Leve em conta que se você pratica Yoga hoje, é porque você julgou ser algo interessante para a sua vida. Se você é vegetariano, é por causa do seu julgamento. A sua escolha em não maltratar os animais, foi feita pelo seu ego. Se você leu este artigo até aqui, foi graças ao seu ego.

Eu amo meu ego e quero que ele continue sempre me ajudando a fazer as escolhas na vida. Quanto aos resultados, cabe a mim, também, aprender a acomodá-los

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Compreendendo o Ānandamayakośa





O Tattvabodhaḥ de Śri Śaṅkarāchārya é uma obra bastante interessante para todos aqueles que desejam aprofundar seus estudos em Vedānta. O texto é bem simples, na forma de um diálogo entre um professor e seu discípulo que busca o entendimento sobre si próprio. O grande ganho que temos ao estudá-lo é a familiarização que passamos a ter com palavras carregadas de significados que serão posteriormente vistas em praticamente todas as Upaniṣads.


Quando estudamos estas escrituras em sânscrito, podemos perder partes ou até mesmo toda uma idéia que está sendo passada através de suas palavras. Por isso, este texto nos oferece uma chance de compreendermos determinadas palavras que retêm melhor os seus significados quando mantidas em seu original, do que quando traduzidas. O Tattvabodhaḥ começa a ficar interessante quando o aluno pergunta ao seu mestre sobre a natureza de ātmā.


Ātmā kaḥ? (O que é o ātmā?)


Ātmā, dentro da visão de Advaita Vedānta, não pode ser qualificado pois não possui um nome ou forma definida, não tem início nem fim. Portanto, neste instante, a mente fica sem recursos para compreender a natureza de ātmā. Ela só funciona através de nomes e formas. 


E quando estas não estão disponíveis, fica impossível a sua tarefa, que é identificar tudo aquilo que ela se relaciona como objeto. Neste momento, o mestre resolve elucidar a questão se aproximando dela de outra forma: mostrando tudo aquilo que ātmā não é.


As três formas de conhecimento, segundo o Advaita Vedānta:


Segundo o Advaita Vedānta, existem três maneiras de se obter conhecimento. A primeira se chama pratyakṣa: que é o conhecimento direto. Quando estamos na presença do objeto. Parokṣa é quando alguém descreve o objeto. Portanto um conhecimento indireto e bastante impreciso. E, por último, aparokṣa é aquilo que se revela naturalmente. Sem a necessidade de um objeto ou uma descrição.


Digo aqui, sem objeto, porque ātmā não é um objeto a ser testemunhado, pois não possui atributos. Ātmā é o sujeito que tudo percebe e que se mantém livre de qualquer envolvimento, de qualquer modificação.


Portanto, o mestre e seu discípulo seguem em sua conversa, discorrendo sobre esta natureza do ātmā, eliminando um a um, cada objeto que é sustentado por ele. A princípio, o mestre descreve o indivíduo como constando de dezessete partes:
- Cinco órgãos de ação
- Cinco órgãos de percepção
- Cinco prāṇas
- Mente
- Intelecto


Kāraṇaśarīram kim? (O que é o kāraṇaśarīra?)


O texto nos leva daquilo que há de mais denso (sthūla e sūkṣmaśarīra), até o entendimento do mais sutil (kāraṇaśarīra). Este que é o mais sutil é chamado de kāraṇaśarīra. Esta é a parte mais difícil de se compreender e onde mais há confusão, entre nós, estudantes de Yoga e Vedānta. Grosso modo, poderíamos dizer que este kāraṇaśarīra, ou corpo causal, é uma “bagagem de karma” de cada indivíduo. Carregada com nossas vāsanas e saṁskaras. 


Estas vāsanās e saṁskāras, são os nossos desejos. Estes desejos são a causa do nosso retorno à forma de indivíduos. Estes desejos que têm como base a ignorância em relação à nossa natureza que já é plena em si mesma.


Desta forma o mestre descreve o kāraṇaśarīra da seguinte forma: “O corpo causal não possui uma forma (pois é o mais sutil de todos). Existe por causa da ignorância que não tem um início (A ignorância é uma experiência que não tem um início, mas que acaba quando o conhecimento sobre um determinado objeto ou assunto se estabelece. Mesmo que não conheçamos o objeto em questão. Portanto como nunca havíamos ouvido falar do objeto, sempre o ignoramos, mas logo que alguém nos apresenta este objeto e nos explica o que é, a ignorância se vai.).


É a causa dos outros dois corpos, que se estabelecem para poderem realizar os desejos do indivíduo. A natureza deste corpo é a própria ignorância em relação a si mesmo (o ātmā), basicamente porque não há o discernimento entre sujeito e objeto.”


Ānandamayaḥ kaḥ? (O que é o ānandamayakośa?)


Tendo compreendido aquilo que é o corpo causal, ainda há algo mais sutil a ser conhecido, e que está relacionado a este corpo, que é o ānandamayakośa. Para entendermos melhor o que é este ānandamayakośa, vamos desmembrar esta palavra em três partes:


A primeira a ser analisada será a palavra kośa. Kośa significa literalmente bainha. Como a bainha de uma espada. Ou seja, algo que ao cobrir um objeto, assume a forma do mesmo. Mas como ātmā não possui uma forma, esta definição fica um pouco perdida aqui. Já que ātmā não pode ser coberto por nada. Mas digamos que seja algo que pode me fazer pensar que estou “experimentando” ātmā. Vamos entender isso logo à frente quando falarmos sobre a palavra ānanda.


Em segundo vamos analisar a palavra maya. Aqui temos que ter o cuidado para não confundirmos com māyā, que significa “aquilo que é impossível de acontecer”. Maya significa a “transformação de”, ou “nada além de”.


Fica bem lógico quando pensamos no annamayakośa. E podemos traduzí-lo como o corpo que resulta na transformação dos alimentos (anna). O nosso corpo físico. E, em relação à terceira palavra que é ānanda, fica bem traduzido como “nada além de plenitude”.


Em cima disto, o professor discorre: “Este ānandamayakośa é aquele que é sustentado pela ignorância (em relação a mim mesmo), que é a razão pela qual o corpo causal existe. Consiste de sattva impuro (este sattva impuro, nos deixa intrigados, pois sempre tivemos a idéia de que sattva é uma condição indispensável para nossas mentes estarem preparadas para o autoconhecimento.


Mas sattva aqui, aponta para uma experiência de plenitude, e não para a plenitude em si. E experiências não representam aquilo que sou, pois elas vêm e vão). Estas experiências estão sustentadas pelo prazer, listadas pelo professor como priya, moda e pramoda.


Quase sempre, ouvimos falar sobre ānandamayakośa como uma epécie de “corpo de plenitude”, até porque estamos acostumados a relacionar esta palavra em sânscrito com plenitude em português, que é, realmente, um dos seus significados. Mas aqui não. Ānandamayakośa significa, de fato, a causa mais sutil da ignorância.


Desta forma, o professor, encerra esta explicação com um lindo verso, que diz: “Assim como um bracelete, um brinco, uma casa, etc; são reconhecidos como “meus”, e portanto, diferentes de Mim. Assim também é aquilo que é composto pelos cinco kośas. Reconhecidos como “meus”: meu corpo, meus sentidos, minha mente, meu intelecto e minha ignorância. Todos eles não sou Eu, o ātmā.”

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Da natureza dos objetos




Após dezoito dias de batalha, os Paṇḍavas retornam ao seu acampamento. Era da regra das guerras, que eles deveriam penetrar o acampamento de seus inimigos. Eles seguiram até o acampamento de Duryodhana. Entraram tocando suas conchas Pancajanya e a grande Devadatta de forma extraordinária.

Kṛṣṇa não queria que o entusiasmo dos Paṇḍavas fosse reduzido pelo acontecido em Samantapancaka (local da luta entre Bhīma e Duryodhana). Ele era o mais alegre entre todos. 

Logo ao chegar ao acampamento, Kṛṣṇa pediu a todos que prestassem atenção ao que ele ia dizer. 
Ele disse: “Arjuna, pegue o seu Gaṇḍiva e sua aljava e desça da carruagem.” Neste momento Kṛṣṇa ainda estava sentado nela. Arjuna o obedeceu. Após descer, Kṛṣṇa abandonou as rédeas e desceu daquela carruagem de ouro, adornada de pedras preciosas. No momento em que Kṛṣṇa desceu, o grande Hanuman que estava em sua bandeira, subitamente subiu aos céus e desapareceu. Foi incrível. Naquele mesmo momento, enquanto todos ainda olhavam para Hanuman, a carruagem começou a arder em chamas como se fosse uma pilha de madeira, e em questão de minutos, se transformou em um punhado de cinzas. Até mesmo os cavalos brancos de Kṛṣṇa queimaram. A carruagem de Arjuna, que antes era um símbolo de medo nos corações dos Kauravas, era agora, somente cinzas.

Arjuna, com seus olhos cheios d’água, se vira para Kṛṣṇa e diz: “Meu Senhor, o que é isto que estou vendo? Minha carruagem de ouro que me foi dada por Agni quando ele queimava a floresta de Khandava. Esta carruagem, que foi guiada por você todos estes dias, se queimou por razão alguma diante dos meus olhos! Eu não compreendo! Por favor, me diga o que aconteceu.”

O olhar de Kṛṣṇa era de desaprovação. Ele disse: “Arjuna, ela serviu ao seu propósito. Ela não é mais necessária. 
Esta carruagem foi capaz de suportar todas as armas usadas por Drona e Radheya. Ela suportou a Brahmāstra usada por estes dois homens e ainda as armas de Aswatthāma. Ela devia ter se queimado há tempos. Mas como eu estava nela, isso não aconteceu. Eu a abandonei agora, após você ter conquistado aquilo que você deveria conquistar. Então ela se queimou. Eu a permiti ser reduzida à cinzas. 

Tudo neste mundo é criado com um propósito. No momento em que este é cumprido, ele não é mais necessário.” Aquele olhar de desaprovação de Kṛṣṇa desapareceu, dando lugar a um sorriso.

E novamente Kṛṣṇa disse: “Arjuna, assim também é com os Homens. Cada um tem um propósito nesta jornada que chamamos de vida. Somos enviados neste mundo com um propósito. Uma vez cumprido este propósito, o mundo não precisa mais daquele indivíduo. Este é o nosso caso, até mesmo eu. Eu me criei neste mundo com um propósito. Ainda não está acabado. Algo resta. No momento em que acabar, eu também morrerei. E assim será com você e seus queridos irmãos. Não sofra por aquilo que é perecível.” (Mahābharata)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Is this Yoga? Como arrebentar o seu corpo com a prática

O texto abaixo aponta para formas distorcidas de ensino de Yoga que enfatizam o físico sem o respeito do limite individual. O testemunho é bastante real e interessante. O fechamento do texto é, que na minha visão, está errado. Mesmo pessoas com sérias limitações podem praticar. Talvez não em uma sala com várias outras pessoas, pois ela necessitaria de maior atenção, que nem sempre pode ser dispensada, mas continuo pensando que Yoga é para todos, até porque Yoga não é só corpo.

On a cold Saturday in early 2009, Glenn Black, a yoga teacher of nearly four decades, whose devoted clientele includes a number of celebrities and prominent gurus, was giving a master class at Sankalpah Yoga in Manhattan. Black is, in many ways, a classic yogi: he studied in Pune, India, at the institute founded by the legendary B. K. S. Iyengar, and spent years in solitude and meditation. He now lives in Rhinebeck, N.Y., and often teaches at the nearby Omega Institute, a New Age emporium spread over nearly 200 acres of woods and gardens. He is known for his rigor and his down-to-earth style. But this was not why I sought him out: Black, I’d been told, was the person to speak with if you wanted to know not about the virtues of yoga but rather about the damage it could do. Many of his regular clients came to him for bodywork or rehabilitation following yoga injuries. This was the situation I found myself in. In my 30s, I had somehow managed to rupture a disk in my lower back and found I could prevent bouts of pain with a selection of yoga postures and abdominal exercises. Then, in 2007, while doing the extended-side-angle pose, a posture hailed as a cure for many diseases, my back gave way. With it went my belief, naïve in retrospect, that yoga was a source only of healing and never harm.

At Sankalpah Yoga, the room was packed; roughly half the students were said to be teachers themselves. Black walked around the room, joking and talking. “Is this yoga?” he asked as we sweated through a pose that seemed to demand superhuman endurance. “It is if you’re paying attention.” His approach was almost free-form: he made us hold poses for a long time but taught no inversions and few classical postures. Throughout the class, he urged us to pay attention to the thresholds of pain. “I make it as hard as possible,” he told the group. “It’s up to you to make it easy on yourself.” He drove his point home with a cautionary tale. In India, he recalled, a yogi came to study at Iyengar’s school and threw himself into a spinal twist. Black said he watched in disbelief as three of the man’s ribs gave way — pop, pop, pop.

After class, I asked Black about his approach to teaching yoga — the emphasis on holding only a few simple poses, the absence of common inversions like headstands and shoulder stands. He gave me the kind of answer you’d expect from any yoga teacher: that awareness is more important than rushing through a series of postures just to say you’d done them. But then he said something more radical. Black has come to believe that “the vast majority of people” should give up yoga altogether. It’s simply too likely to cause harm.

Not just students but celebrated teachers too, Black said, injure themselves in droves because most have underlying physical weaknesses or problems that make serious injury all but inevitable. Instead of doing yoga, “they need to be doing a specific range of motions for articulation, for organ condition,” he said, to strengthen weak parts of the body. “Yoga is for people in good physical condition. Or it can be used therapeutically. It’s controversial to say, but it really shouldn’t be used for a general class.”

Black seemingly reconciles the dangers of yoga with his own teaching of it by working hard at knowing when a student “shouldn’t do something — the shoulder stand, the headstand or putting any weight on the cervical vertebrae.” Though he studied with Shmuel Tatz, a legendary Manhattan-based physical therapist who devised a method of massage and alignment for actors and dancers, he acknowledges that he has no formal training for determining which poses are good for a student and which may be problematic. What he does have, he says, is “a ton of experience.”

“To come to New York and do a class with people who have many problems and say, ‘O.K., we’re going to do this sequence of poses today’ — it just doesn’t work.”

According to Black, a number of factors have converged to heighten the risk of practicing yoga. The biggest is the demographic shift in those who study it. Indian practitioners of yoga typically squatted and sat cross-legged in daily life, and yoga poses, or asanas, were an outgrowth of these postures. Now urbanites who sit in chairs all day walk into a studio a couple of times a week and strain to twist themselves into ever-more-difficult postures despite their lack of flexibility and other physical problems. Many come to yoga as a gentle alternative to vigorous sports or for rehabilitation for injuries. But yoga’s exploding popularity — the number of Americans doing yoga has risen from about 4 million in 2001 to what some estimate to be as many as 20 million in 2011 — means that there is now an abundance of studios where many teachers lack the deeper training necessary to recognize when students are headed toward injury. “Today many schools of yoga are just about pushing people,” Black said. “You can’t believe what’s going on — teachers jumping on people, pushing and pulling and saying, ‘You should be able to do this by now.’ It has to do with their egos.”

When yoga teachers come to him for bodywork after suffering major traumas, Black tells them, “Don’t do yoga.”

This article is adapted from “The Science of Yoga: The Risks and Rewards,” by William J. Broad, to be published next month by Simon & Schuster. Broad is a senior science writer at The Times.

Editor: Sheila Glaser

Fonte:  http://www.nytimes.com/2012/01/08/magazine/how-yoga-can-wreck-your-body.html?_r=2