domingo, 5 de dezembro de 2010

A Gravidade do Problema

Não é um maluco qualquer, em qualquer lugar, com quaisquer pessoas fazendo bobagens em nome do Yoga. É um professor em São Paulo, que já ministrou aulas para pessoas famosas, que cobra 3 mil reais por curso e que atrai pessoas de uma classe média alta do nosso fraterno e multicultural país. Quando um carinha qualquer faz uma bobagem qualquer, em qualquer lugar, com quaisquer pessoas, a merda não fede, pois não tem nenhum nariz apurado para sentir. Mas no caso aqui citado, a merda foi jogada no ventilador, e não apenas fedeu, mas respingou em todos nós, instrutores de Yoga.

O fato acontecido desse tal camarada que se diz instrutor de Yoga faz-nos pensar sobre a responsabilidade que temos enquanto professores e sobre a nossa união enquanto profissionais que trabalham com Yoga. Temos responsabilidades com a vida, a saúde, a integridade física e moral dos nossos alunos. Eu não estava lá para ver e como não acredito muito no que a TV e os jornais falam, e por isso não vou me prender a fatos que podem ter acontecido ou que aconteceram no retiro que levou pessoas à UTI. Mas vou resumir as minhas reflexões a respeito dos efeitos dos atos de uma pessoa dentro de todo o universo yogi.

Não há como limpar o que foi feito, pois seus efeitos foram muito longe, parou no Fantástico. O que podemos fazer é nos precavermos dos efeitos de outros atos antiéticos que possam acontecer e que sabemos que não apenas podem, mas acontecem. Esse não foi o primeiro, houveram outros e existem outros nesse momento ajudando a afundar a reputação do Yoga na nossa sociedade. A diferença é que este infeliz ocorrido caiu na mídia, mas outros talvez até mais graves não foram parar no Fantástico. Como instrutores de Yoga muitos de nós sabemos que existem grupos que deixam a ética de lado e fazem coisas tão absurdas em nome do Yoga.

Bom, o ocorrido talvez traga à tona o questionamento sobre a regulamentação do Yoga. Esse é o meu maior receio. É uma responsabilidade muito grande sermos professores de Yoga, por outro lado não há necessidade de qualquer tipo de exigência para exercer a profissão. É o bom senso e a ética que deve nos guiar, afinal de contas, estes devem fazer parte do conteúdo que passamos aos nossos alunos. Mas o que vemos é que a união entre a ética, a falta de bom senso e o Yoga podem ser uma combinação explosiva. E pode dar no que deu.

Apesar de não ter como limpar a bobagem que este instrutor de Yoga fez, quem, ao menos, vai ajudar a limpar a imagem do Yoga perante a opinião pública? Todos nós podemos e devemos, sendo éticos. Mas isso não é o suficiente. Ser ético dentro do Yoga não é mérito algum. Numa sociedade onde a ética está em crise, podemos até pensar que ser ético é um grande mérito. Não é. Sendo éticos estaremos apenas fazendo o nosso trabalho, o nosso dever. O que devemos fazer é nos unir. É, apesar de termos vozes dissonantes, podemos falar a mesma língua. A língua de pessoas que estão unidas em torno do Yoga, do trabalho com o Yoga.

Quando acontece um erro médico, o conselho de medicina tenta se retratar para procurar resgatar a credibilidade dos profissionais da área. O mesmo acontece com outras profissões. E com o Yoga, quem pode falar em nome do Yoga? Todos nós podemos falar e ser ouvidos, se estamos unidos. Não defendo aqui a institucionalização do Yoga, questiono apenas a união de seus profissionais em prol da ética e da responsabilidade.

Os professores de Yoga hoje encontram-se reunidos em pequenos grupos que brigam, criticam-se e competem. Historicamente é assim, desde que o Yoga começou no Brasil. Pesquisem sobre a história do Yoga no Brasil e confirmem. Não são poucos grupos, são muitos, mas são pequenos e desunidos. Estes pequenos grupos, se juntos, reúnem um número muito significativo de pessoas, pois são milhares os instrutores de Yoga trabalhando no Brasil. Mas separados como estão, incluindo este que te escreve nesse momento, não tem representatividade alguma. Pessoas desunidas são apenas pessoas, indivíduos que se desentendem entre si. Pessoas unidas têm representatividade e voz pública. Quem irá falar pelo Yoga nesse momento? Todos nós podemos e devemos.

Escrevamos para os jornais, para as revistas, para o Fantástico e vamos dar a nossa opinião, vamos nos defender e defender o Yoga. Isso é o mínimo que podemos fazer nesse momento.

Porém, quando a poeira desse acontecimento abaixar, vamos refletir sobre a união dentro do Yoga. União para além da institucionalização. Porque se não estamos unidos, não temos representatividade e quem está unido tem. E talvez quem esteja unido hoje dentro do mundo do Yoga no Brasil sejam as pessoas menos recomendadas a falar por todos nós, pois estas são capazes de levar a reputação do Yoga a um nível mais baixo do que este professor conseguiu fazer. E aí, quando algum outro escândalo acontecer e notícias saírem nos jornais sobre escândalos, referindo-se ao Yoga com uma linguagem muito próxima a que se referem a seitas como a de Jim Jones, quem falará pelo Yoga? Quem falará por nós, instrutores?

Texto do amigo e irmão Yogi de Aracaju - Floripa, Tales Nunes

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