Introdução
Prāṇa é o
termo que o yogi usa para se relacionar com a sua própria respiração e também
com toda a energia que sustenta o universo. Prāṇa é a energia que permite que o corpo e a mente funcionem. Exercícios
respiratórios são formas excelentes para a o desenvolvimento desta energia.
Eles são o foco principal do Prāṇāyāma, que é
o quarto estágio da prática, colocado por Patañjali nos Yoga Sūtras. Além de
desenvolver a nossa energia, o Prāṇāyāma é uma
importante ferramenta para relaxar o corpo durante o esforço durante a prática
de āsanas e também para estabilizar a mente para as práticas meditativas.
A respiração não é apenas uma indicação de que estamos
vivos, mas também uma forma de conexão com aquilo que é livre de formas e nomes
(Brahman), que é apontado pelo elemento ar, e se sutiliza,
posteriormente, no elemento espaço.
Não é a toa que quando queremos empreender um grande
esforço, damos uma profunda respirada!
Para as práticas mais sutis, é necessário mais
energia, maior concentração para estabilizar a mente, que pode ser feito
através da respiração profunda e consciente.
O Prāṇa é um
assunto bastante importante para várias práticas de Yoga que enfatizam a
relação desta energia com os canais sutis do corpo (nādīs) e cakras que estão
estabelecidas em nosso corpo sutil.
Muitas coisas são faladas sobre as práticas de prāṇāyāma
hoje em dia. A idéia é dar o
significado implicado à estas práticas segundo o Śāstra.
Falamos isso, pois assim como houve uma deturpação quanto à
prática de āsanas, também houve em relação ao prāṇāyāma.
Os fins foram confundidos com os meios. Na prática de āsanas,
nós já frisamos que, há um ganho na força, flexibilidade, equilíbrio da saúde
em geral do corpo.
Mas isto não é o objetivo da prática de Yoga. Nós não
podemos simplesmente retirar uma técnica de todo um contexto muito maior.
Estas são consequências da constante exposição à prática. E
no prāṇāyāma também há resultados da mesma natureza. Há uma melhora na
capacidade de respirar. Doenças respiratórias podem ser atenuadas e até mesmo
desaparecer.
Mas para um Yogi, este não é o objetivo, é um ganho. Um
ganho valioso, mas apenas um ganho. Portanto, não vamos confundir Yoga com prāṇāyāma.
Um Yogi deseja, a partir da técnica de prāṇāyāma, maior
tranquilidade e clareza para a mente. Apesar dos seus efeitos bastante visíveis
sobre o corpo, o prāṇāyāma é uma potente ferramenta usada para estabilizar a
paisagem da mente.
Este processo de tranquilização e amadurecimento da mente, é
chamado em sânscrito de antaḥkaraṇaśuddhi, que literalmente significa:
purificação do instrumento interno, que é a mente.
Uma mente tranquila e madura é capaz de olhar para o mundo
como ele é. É capaz de transcender os seus próprios gostos e aversões e agir
conforme o Universo lhe proporciona as situações ao longo da vida.
Nos recentes manuais de Yoga, podemos encontrar dezenas de
técnicas respiratórias. Cada uma especialmente feita para uma determinada época
do ano, lugar, ocasião. Mas a bem da verdade, é aí que a confusão se instala. E
ali, o praticante se vê perdido frente à tantas opções, e sem saber bem o por
que de tudo isso.
A idéia, aqui, não é descartar estas técnicas, mas entender
que todas elas são um meio para antaḥkaraṇaśuddhi e não para ficar minutos sem
respirar.
Nosso mestre, Swāmi Dayānanda, por exemplo, ensina que um
dos prāṇāyāmas mais interessantes para cultivarmos uma mente tranquila, é o
Nādī śodhana prāṇāyāma. O exercício no qual alternamos narinas nas inspirações
e expirações.
Ele nos conduzia neste exercício todas as manhãs antes da
prática de meditação. E outra coisa interessante que ele ensinava, era que não
era necessário mais do que dez ciclos para cada narina. Ou seja, verdadeiramente
é uma preparação, e que o principal, vinha depois, a meditação, na qual a mente
precisa estar um pouco mais estável.
Seguindo esta linha de pensamento do nosso mestre, duas
escrituras muito importantes para aqueles que estudam o Yoga, também não discorrem
demasiadamente sobre o assunto.
Nos Sūtras de Patañjali, por exemplo, está escrito:
“tasmin sati śvāsapraśvāsayorgativicchedaḥ prāṇāyāmaḥ”
||49||
O prāṇāyāma consiste na regulação do movimento da inspiração
e da expiração.
Na Gītā temos outro exemplo bem parecido e muito
interessante no que tange a confusão entre meios e fins:
“apāne juhvati prāṇaṁ prāṇe’pānaṁ tathāpare|
prāṇāpānagatī ruddhvā prāṇāyāmaparāyaṇāḥ” ||
Ainda outros, seguidores do controle da respiração,
controlando a expiração e a inspiração, oferecem a expiração na inspiração e a
inspiração na expiração.
Este trecho da Gītā é bastante interessante, pois nele, Kṛṣṇa
está explicando o fato de que nenhuma ação é capaz de lhe dar o conhecimento
sobre o absoluto. Nenhuma ação é capaz de te livrar da sensação de limitação,
já que uma ação é limitada em si mesma. Portanto, o prāṇāyāma, como uma ação,
também é limitado. Apenas te prepara para ter uma mente mais contemplativa.
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