quinta-feira, 26 de abril de 2012

Da natureza dos objetos




Após dezoito dias de batalha, os Paṇḍavas retornam ao seu acampamento. Era da regra das guerras, que eles deveriam penetrar o acampamento de seus inimigos. Eles seguiram até o acampamento de Duryodhana. Entraram tocando suas conchas Pancajanya e a grande Devadatta de forma extraordinária.

Kṛṣṇa não queria que o entusiasmo dos Paṇḍavas fosse reduzido pelo acontecido em Samantapancaka (local da luta entre Bhīma e Duryodhana). Ele era o mais alegre entre todos. 

Logo ao chegar ao acampamento, Kṛṣṇa pediu a todos que prestassem atenção ao que ele ia dizer. 
Ele disse: “Arjuna, pegue o seu Gaṇḍiva e sua aljava e desça da carruagem.” Neste momento Kṛṣṇa ainda estava sentado nela. Arjuna o obedeceu. Após descer, Kṛṣṇa abandonou as rédeas e desceu daquela carruagem de ouro, adornada de pedras preciosas. No momento em que Kṛṣṇa desceu, o grande Hanuman que estava em sua bandeira, subitamente subiu aos céus e desapareceu. Foi incrível. Naquele mesmo momento, enquanto todos ainda olhavam para Hanuman, a carruagem começou a arder em chamas como se fosse uma pilha de madeira, e em questão de minutos, se transformou em um punhado de cinzas. Até mesmo os cavalos brancos de Kṛṣṇa queimaram. A carruagem de Arjuna, que antes era um símbolo de medo nos corações dos Kauravas, era agora, somente cinzas.

Arjuna, com seus olhos cheios d’água, se vira para Kṛṣṇa e diz: “Meu Senhor, o que é isto que estou vendo? Minha carruagem de ouro que me foi dada por Agni quando ele queimava a floresta de Khandava. Esta carruagem, que foi guiada por você todos estes dias, se queimou por razão alguma diante dos meus olhos! Eu não compreendo! Por favor, me diga o que aconteceu.”

O olhar de Kṛṣṇa era de desaprovação. Ele disse: “Arjuna, ela serviu ao seu propósito. Ela não é mais necessária. 
Esta carruagem foi capaz de suportar todas as armas usadas por Drona e Radheya. Ela suportou a Brahmāstra usada por estes dois homens e ainda as armas de Aswatthāma. Ela devia ter se queimado há tempos. Mas como eu estava nela, isso não aconteceu. Eu a abandonei agora, após você ter conquistado aquilo que você deveria conquistar. Então ela se queimou. Eu a permiti ser reduzida à cinzas. 

Tudo neste mundo é criado com um propósito. No momento em que este é cumprido, ele não é mais necessário.” Aquele olhar de desaprovação de Kṛṣṇa desapareceu, dando lugar a um sorriso.

E novamente Kṛṣṇa disse: “Arjuna, assim também é com os Homens. Cada um tem um propósito nesta jornada que chamamos de vida. Somos enviados neste mundo com um propósito. Uma vez cumprido este propósito, o mundo não precisa mais daquele indivíduo. Este é o nosso caso, até mesmo eu. Eu me criei neste mundo com um propósito. Ainda não está acabado. Algo resta. No momento em que acabar, eu também morrerei. E assim será com você e seus queridos irmãos. Não sofra por aquilo que é perecível.” (Mahābharata)

Um comentário:

  1. “...Não sofra por aquilo que é perecível.” (Kṛṣṇa)
    Essa é uma compreensão que ainda tento digerir, qdo o perecível é alguém q foi veículo para minha vinda a esse mundo. Inspiro, expiro.

    No fundo compreendo, claro que sim, mas o apego não deixa eu let go o 'perecível'. Ele se agarra, e gostaria que a matéria estivesse aqui presente compartilhando a vida terrena. Enfim...

    Grata pelo post!

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