Não quero ser repetitivo com os temas que escolho para escrever neste site, mas as atuais circunstâncias nos mostram que alguns assuntos estão longe de se esgotar. Um deles é o tratamento patife e caricato que o Yoga está recebendo nos meios de comunicação. Do jeito que as coisas estão sendo apresentadas, esse sofisticado sistema de filosofia está ficando muito parecido com um cachorro viralata (com todo respeito pelos simpáticos quadrúpedes).
Para evitar que as coisas piorem, achei que seria uma boa idéia estipular um padrão mínimo de ensino para que esta tradição milenar não se perca. Dessa forma, e inspirado pelos cursos de nivelamento oferecidos pelos CREFs, criei um Curso Instantâneo de Formação. Igualmente, juntei a ele uma série de dicas importantes que podem ser aplicadas por aqueles que aspiram a ficar ricos ensinando Yoga, sem abrir mão da profundidade filosófica dos ensinamentos (tá bom, só um pouquinho!).
Agora, você pode aproveitar minha vasta experiência como megaempresário do Yoga para também ficar rico. Por primeira vez na história, estou revelando gratuitamente o segredo do sucesso de tantos gurus que prosperaram em ocidente. A informação para este curso foi retirada da mídia não especializada que, como todos sabemos, é a fonte de pesquisa mais fidedigna sobre as tradições ancestrais do Yoga.
Caso você esteja interessado em fazer sucesso e dinheiro aplicando esta receita de Yoga (aliás, já divulgada pela mídia), reúna ao longo de uma aula de 60 minutos os ingredientes listados a seguir. Para ensinar este tipo de Yoga, não se exige nenhuma experiência prévia. Só precisa ser bastante cara de pau e ter um pouco de criatividade. Esta fórmula é especialmente indicada para academias de ginástica:
Como apresentar-se:
- use roupas sensuais e apertadas (e dane-se a circulação)
- se você for mulher, pense num implante de silicone (mas só se for XG!)
- loirice sempre está de moda nas academias. Se você não for loira, pense em ficar loira
- se você for homem, malhe bastante ferro e tome L-carnitina (suco de boi ralado, que ajuda a destacar os músculos)
- se não tiver tatuagens, faça-as
- se já estiver tatuado, tatue-se mais, preferentemente com motivos hindus.
Acrescente à sua prática:
- algumas séries de saudação ao sol
- um pouco de alongamento
- um pouco de contorcionismo
- algumas séries de abdominais
- uma postura de cabeça para baixo
- alguns minutos de descanso.
Certifique-se de que as pessoas transpirem bastante. Para tanto, feche as janelas se for preciso. Fale bastante em queima de calorias.
Use expressões como estas:
- vamos lá, força!
- é isso aí, pessoal!
- puxa mais! (ou estica mais!)
- show!
- uhu!
Elimine qualquer menção à ética do Yoga, principalmente durante as práticas, para não distrair os alunos que estejam apreciando (ou invejando) alguma parte da anatomia ou a performance dos demais.
Evite fazer invocações, mantras ou visualizações que possam assustar seus alunos ou tirá-los de seus devaneios. Reduza os respiratórios e elimine sumariamente a meditação (afinal de contas, meditar é mesmo um saco). Imposte a voz e esforce-se para fazer cara de inteligente.
Evite as seguintes palavras:
- filosofia
- auto-conhecimento
- transcendência
- espiritualidade
- iluminação
Qualifique seu método com adjetivos como estes:
- científico
- anti-espiritualista
- malhação corpo-mente
Sorria bastante, especialmente na execução das posturas mais difíceis (treine frente ao espelho, se for preciso). Avise às pessoas que as práticas que você ministra têm mais de 5000 anos de garantia e existência comprovada. Invente um nome indiano para seu mestre imaginário e declare que você recebe instruções diretamente do além (tente não rir de si próprio ao fazer isso. Com o tempo, você irá se acostumar). Monte uma campanha de marketing e faça uma vernissage numa academia da moda para lançar sua criação.
Use slogans como estes:
- o exercício que traz força, flexibilidade e bem-estar
- a mais nova onda em matéria de condicionamento físico
- ginástica puxada
- força, flexibilidade, equilíbrio e melhor condicionamento cardiovascular
(citações ipsis literis da reportagem da revista Veja de 19/11/2003)
Chame isto de yoginástica, bodyoga ou invente algum outro nome criativo. Pronto! Você já tem a receita perfeita. Há dezenas de milhares de ávidos praticantes desejosos de aumentar sua qualidade de vida aplicando seus ensinamentos "milenares" (mesmo se você não tiver a mínima idéia do que esteja fazendo). Como essa receita foi descrita inúmeras vezes por revistas especializadas em qualquer coisa, como Veja, Boa Forma, Nova e outras, não há como falhar.
Posteriormente, abra franquias, que lhe possibilitarão cobrar polpudos dividendos. Use gente bem jovem. Especialize-se nesse público, pois os jovens são mais fáceis de serem manipulados.
Quando for suficientemente rico, peça para seus discípulos organizarem uma doação de alimentos para campanhas beneficentes como Fome Zero ou Natal sem Fome. Certifique-se de chamar a imprensa ao fazer sua doação. Isso atrairá potenciais clientes e pode servir como uma lavagem de consciência (caso você tenha alguma. Se não tiver, esqueça).
Escreva sua auto-biografia aos 35 anos. Invente, exagere ou distorça detalhes que possam tornar a leitura mais interessante (afinal de contas, uma biografia notável deve ser fabricada com fatos notáveis, heróicos ou nobres, que nem sempre coincidem com a vidinha normal que você tem). Não esqueça de colocar-se como empresário muito bem sucedido e feliz (mesmo que não seja).
Uma dica importante: repita o processo inteiro ao perceber que o interesse do público está começando a esmorecer. Se for preciso, desta vez use um turbante e roupas indianas. Exija que seus alunos o chamem de "mestre". Nunca falha.
Texto de Pedro Kupfer
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
O sentido da palavra Upanisad
Geralmente, a palavra Upanisad é interpretada da seguinte forma: upa, próximo; ni, abaixo e sad sentar. Quando estas interpretações se juntam, a palavra upanisad se refere a um conhecimento ganho ao sentar-se junto a um professor. Esta é uma interpretação possível. Mas o verdadeiro sentido da palavra é autoconhecimento, brahma-vidya. A identificação do indivíduo com Brahman.
Há três elementos “upa-ni-sad” na palavra. Sad é a palavra que surge do radical sad. Em sânscrito, um radical não é uma palavra. Cada palavra tem seu radical que traz o significado da palavra. Nomes e verbos geralmente são formados a partir destes radicais.
O radical sad tem três significados: visarana, desintegração; gamana, alcançar; e avasadana, destruição total. Sad desintegra algo. O que ele desintegra? Basicamente, ele desintegra tudo aquilo que você não quer na sua vida. Isto não inclui a sua sogra, ela é apenas um nimitta, um incidente. A verdadeira causa da sua tristeza e sua incapacidade de lidar com ela são desintegradas pela upanisad.
Ela desintegra todas as anarthas, as coisas indesejáveis. Suponha que elas retornem. Não, avasadayati, ela põe um fim a estas coisas. Avasadana significa destruição completa de todas as anarthas e as raízes de sua causa. É a destruição definitiva.
Tudo bem, mas não há nada de positivo aqui. O que ganhamos de forma positiva? Sempre gostamos do positivo. Positivamente Brahma gamayati, ou seja, algo que te conduz a Brahman, o absoluto, ilimitado. Agora você está interessado em conhecer o que é isto que faz todas estas coisas. Isso é revelado por upa-ni.
Upa e ni são prefixos. O prefixo upa, aqui, indica o agente de todas as ações acima. Upa significa samipe, próximo. A palavra próximo é bastante relativa. O que é próximo? Tudo aquilo que você considera próximo pode tornar-se bem distante ou remoto a partir de um diferente ponto de vista. Quando você olha para o sol a partir do ponto de vista das estrelas. O sol é a estrela mais próxima. O sol é uma estrela. O sastra (escritura) reconhece o sol como um símbolo de todo o universo. Pois estamos no sistema solar. Então a referência é o sol. A sruti diz: “Aquele que está no indivíduo e aquele que está em aditya-devata, o sol, são o mesmo.” (Taittiriyopanisad 1.8). Este sol está bem próximo se compararmos às outras estrelas. A partir da lua, este sol está bem longe. A lua está mais próxima. A lua está longe, Delhi é mais perto. Delhi está longe, a parede deste quarto está mais perto. A parede está longe, o gravador está mais perto. Este está longe, minhas roupas estão mais perto. As roupas estão distantes, o corpo está mais perto de mim. Até mesmo o corpo está longe. O pensamento que põe este corpo como objeto, está mais perto de mim. O pensamento está longe, “eu”, a primeira pessoa do singular, o sujeito que está consciente do pensamento é o mais próximo.
“Eu” refere-se ao atman. A palavra atman é sempre usada na terceira pessoa do singular. Mas o sentido da palavra atman, é a primeira pessoa do singular, que é, aham. “Eu”, aham, é o mais próximo. O mais próximo não é nem mesmo uma expressão correta. Porque o mais próximo implica em certa distância. Aqui, relativamente falando, referindo-se a tudo mais, atman é o mais próximo. Não há nada mais próximo do que ele, este é o sentido.
Sobre você, o sujeito, há confusão. O que você busca na vida é a si mesmo, o sujeito. Como pode ser? Tudo aquilo que busco não sou eu. Eu busco somente aquilo que “não sou eu”. Este é o verdadeiro problema. Nós temos que especificar realmente o que estamos procurando. Para isso o prefixo “ni” indica niscaya-jnana, conhecimento claro, exatamente sobre aquilo que você quer na vida.
Você quer somente Brahman, mas não pode ter, porque você já o é. Você não pode ser maior que Brahman, porque não há nada além de Brahman. Tudo aqui é Brahman. Este é você e não pode ser nada além de você. Brahman é o ilimitado, e isto é você. Você não pode se separar do ilimitado. Então, upa-ni significa Brahma-vidya, o conhecimento da unidade do indivíduo e Brahman. Para que isto? Isto destrói as anarthas. O conhecedor deste Brahma-vidya ganha Brahman. Ele ganha o absoluto. Absoluto significa que não há mais nada a ser ganho. Qualquer ganho além deste, é simplesmente pura diversão. A vida de tornar-se chega a um fim, porque não há nada para se tornar.
Texto extraído do livro Exploring Vedanta de Swami Dayananda Saraswati
Há três elementos “upa-ni-sad” na palavra. Sad é a palavra que surge do radical sad. Em sânscrito, um radical não é uma palavra. Cada palavra tem seu radical que traz o significado da palavra. Nomes e verbos geralmente são formados a partir destes radicais.
O radical sad tem três significados: visarana, desintegração; gamana, alcançar; e avasadana, destruição total. Sad desintegra algo. O que ele desintegra? Basicamente, ele desintegra tudo aquilo que você não quer na sua vida. Isto não inclui a sua sogra, ela é apenas um nimitta, um incidente. A verdadeira causa da sua tristeza e sua incapacidade de lidar com ela são desintegradas pela upanisad.
Ela desintegra todas as anarthas, as coisas indesejáveis. Suponha que elas retornem. Não, avasadayati, ela põe um fim a estas coisas. Avasadana significa destruição completa de todas as anarthas e as raízes de sua causa. É a destruição definitiva.
Tudo bem, mas não há nada de positivo aqui. O que ganhamos de forma positiva? Sempre gostamos do positivo. Positivamente Brahma gamayati, ou seja, algo que te conduz a Brahman, o absoluto, ilimitado. Agora você está interessado em conhecer o que é isto que faz todas estas coisas. Isso é revelado por upa-ni.
Upa e ni são prefixos. O prefixo upa, aqui, indica o agente de todas as ações acima. Upa significa samipe, próximo. A palavra próximo é bastante relativa. O que é próximo? Tudo aquilo que você considera próximo pode tornar-se bem distante ou remoto a partir de um diferente ponto de vista. Quando você olha para o sol a partir do ponto de vista das estrelas. O sol é a estrela mais próxima. O sol é uma estrela. O sastra (escritura) reconhece o sol como um símbolo de todo o universo. Pois estamos no sistema solar. Então a referência é o sol. A sruti diz: “Aquele que está no indivíduo e aquele que está em aditya-devata, o sol, são o mesmo.” (Taittiriyopanisad 1.8). Este sol está bem próximo se compararmos às outras estrelas. A partir da lua, este sol está bem longe. A lua está mais próxima. A lua está longe, Delhi é mais perto. Delhi está longe, a parede deste quarto está mais perto. A parede está longe, o gravador está mais perto. Este está longe, minhas roupas estão mais perto. As roupas estão distantes, o corpo está mais perto de mim. Até mesmo o corpo está longe. O pensamento que põe este corpo como objeto, está mais perto de mim. O pensamento está longe, “eu”, a primeira pessoa do singular, o sujeito que está consciente do pensamento é o mais próximo.
“Eu” refere-se ao atman. A palavra atman é sempre usada na terceira pessoa do singular. Mas o sentido da palavra atman, é a primeira pessoa do singular, que é, aham. “Eu”, aham, é o mais próximo. O mais próximo não é nem mesmo uma expressão correta. Porque o mais próximo implica em certa distância. Aqui, relativamente falando, referindo-se a tudo mais, atman é o mais próximo. Não há nada mais próximo do que ele, este é o sentido.
Sobre você, o sujeito, há confusão. O que você busca na vida é a si mesmo, o sujeito. Como pode ser? Tudo aquilo que busco não sou eu. Eu busco somente aquilo que “não sou eu”. Este é o verdadeiro problema. Nós temos que especificar realmente o que estamos procurando. Para isso o prefixo “ni” indica niscaya-jnana, conhecimento claro, exatamente sobre aquilo que você quer na vida.
Você quer somente Brahman, mas não pode ter, porque você já o é. Você não pode ser maior que Brahman, porque não há nada além de Brahman. Tudo aqui é Brahman. Este é você e não pode ser nada além de você. Brahman é o ilimitado, e isto é você. Você não pode se separar do ilimitado. Então, upa-ni significa Brahma-vidya, o conhecimento da unidade do indivíduo e Brahman. Para que isto? Isto destrói as anarthas. O conhecedor deste Brahma-vidya ganha Brahman. Ele ganha o absoluto. Absoluto significa que não há mais nada a ser ganho. Qualquer ganho além deste, é simplesmente pura diversão. A vida de tornar-se chega a um fim, porque não há nada para se tornar.
Texto extraído do livro Exploring Vedanta de Swami Dayananda Saraswati
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Um berro!
Mais uma vez volto a bater na mesma tecla. Nas coisas que mais me irritam dentro da minha própria profissão. Da falsidade, da invenção, da viagem na maionese e falta de caráter daqueles que insistem em se aproveitar da inocência de outros que estão em busca de conhecimento e de uma vida coerente, harmoniosa com a natureza e os demais.
Cansei de falsos professores, cansei das invenções, cansei de ficar quieto comigo mesmo. É preciso desmascarar, rever, reavaliar todo um cenário que há alguns anos foi se degradando, mas que agora está chegando a um nível absurdo, praticamente uma palhaçada.
Ver em links de internet coisas como Dog Yoga, traga seu cachorro para praticar! É ridículo, mas se existe o produto, existe também o consumidor. O que interessa a estas pessoas? Au-autoconhecimento?
Cansei de abrir revistas e ver a prática “Cirque du Soleil”. Onde um contorce o outro, se equilibra nas pernas, gira, pula e blábláblá! Falta só ganhar uma sardinha na boca no final da exibição. Claro! Porque isto é exibição, isto não é Yoga. Isto deve ser New Age Yoga.
Agora você deve estar pensando: “nossa, mas que texto mais estúpido e radical”.
Imagine se fizessem isso com outras tradições culturais tão lindas como o Yoga. Vamos ensinar karatê com dance music! Ora, qual o problema? Vamos misturar a dança espanhola com a chinesa. O que vale é a interação...
Não, eu não sou racista, vamos nos misturar sim! Mas há coisas que devem manter suas raízes, senão vamos perder o conhecimento, tradição e lindas culturas antiquíssimas!
Cada um tem suas características individuais que são lindas. Por que perdê-las?
Por que transformar o Yoga em um simples objeto ou fonte de lucro. Fazer acrobacia não traz nenhum conhecimento! Ou você se lembra de ter aprendido algo profundo dando uma cambalhota?
Por que tratar esta cultura, este corpo de conhecimento como simples aulas de anatomia? Onde força-se o corpo ao extremo? Onde está o conhecimento?
Por que continuar vendo pessoas com péssima índole, mas ótimos contatos na mídia, levando o yoga para o buraco?
É fácil deixar estas pessoas que são formadoras de opinião fazerem isto. Aliás, é isto que elas fazem. Fazem yoga...não praticam! Fazer é moleza. Vai à sala e faz! O difícil é praticar, é viver. Porque o difícil é ter força para encarar o que o Yoga te propõe. Uma revisão dos teus valores, uma revisão da tua relação com a vida. Coisas com as quais talvez você nem quisesse saber que existiam. Mas agora que sabe, tem um grande pepino aí na mão para resolver.
Cansei de ver gente idiota se dando bem e bons professores sumindo aos poucos, ou sendo pouco valorizados só porque não usam ar-condicionado, música lounge e nem fazem as pessoas ficarem de cabeça para baixo.
Cansa-me ficar de braços cruzados. Cansa-me não berrar! Cansa-me não me revoltar! É isso mesmo, professor de yoga também tem raiva! Faz xixi e cocô como qualquer ser humano.
Cansa-me esta aura de bonzinho. Cara de que vive em outra dimensão...isso não cola...cansei de ver...são os mais falsos!
Cansei de cura prânica (cuja palavra nem existe em sânscrito), deve ter sido algum hippie maluco quem inventou...cansei de alinhamento de chakra, limpeza de não sei o que lá...e mais bláblablá.
Cansei daqueles que não dão a mínima para a linguagem do yoga, para o sânscrito, para as escrituras e que não respeitam a tradição.
Cansei daqueles que acham que mantras não servem para nada. E também cansei daqueles que acreditam nos mantras que não significam nada e, porém são super secretos. E que além de tudo têm a cara de pau de cobrar rios de dinheiro por eles.
Cansei daqueles que não pesquisam a fundo o buraco no qual estão entrando. Que aceitam, mestres e seitas de forma cega. Que não têm discernimento.
Cansei da cara de pau daqueles que estão por aí queimando o meu filme. Que têm a coragem de dizer que passam a mesma coisa que eu! Cansei de misturar o meu trabalho com o daqueles que não sabem porcaria nenhuma.
Por isso o revoltadinho aqui, prefere sempre trabalhar sozinho. Porque, pelo menos, se eu fizer uma besteira, alguma vez, e não me isento de já tê-las feito alguma vez, pode assumir. O difícil é ter que assumir o besteirol dos outros!
Ufa, realmente cansa escrever desabafando esta raiva. Cansa também tentar ser sutil, mas isso eu já tinha desistido desde o início.
Eu não vou mais guardar certas opiniões, frutos de minhas experiências. Assim como eu tive a sorte de encontrar ótimas pessoas no meu caminho, que puderam me mostrar com toda liberdade os caminhos mais interessantes, acho que também é meu dever fazer isso por aqueles que pedirem a mim.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Era uma vez...
Era uma vez, um pastor. Em uma determinada manhã ao retirar o seu gado do curral, ele percebe que as cordas com as quais se amarravam as vacas no pasto, haviam sido roubadas. Sem ter como correr ao vilarejo para comprar outras, ele corre desesperadamente para pedir conselhos ao seu guru.
Chegando lá, faz as revêrencias de sempre ao seu mestre e explica o problema. O guru, seriamente, responde ao seu discípulo: “Finja que você as está amarrando e você verá que amanhã elas ainda estarão lá.”
O pastor, mesmo bastante incrédulo, resolve aceitar o conselho, já que aquele era seu sábio mestre. Na manhã seguinte, para surpresa do pastor, todas as vacas continuavam ali, placidamente deitadas, cada uma em seu lugar. Ele mal podia acreditar, e feliz da vida, foi então as recolher de volta ao seu curral.
Para sua surpresa, nenhuma das vacas obedecia às suas ordens. Nenhuma delas se mexia. Mesmo as golpeando com seu bambu, nenhuma delas se levantava. O pastor então resolveu voltar ao guru, já que o mesmo deveria ter jogado algum “feitiço” sobre elas.
Novamente na companhia do mestre, ele o instrui: “Já que você fingiu amarrá-las, agora desamarre-as. Conceda liberdade!” E assim as vaquinhas voltaram ao curral.
Moral da história, moksha é algo que já é teu por natureza. Somos livres por natureza. Esta liberdade é algo real. O que não é real, assim como a corda são os nossos condicionamentos. Mudam o tempo inteiro e nos aprisionam a um certo tipo de comportamento. Se alguém lhe dá um adjetivo, se alguém lhe atribui uma qualidade, é como se esta pessoa lhe jogasse este “feitiço”. Você passa a acreditar e a assumir aquela forma que lhe foi atribuida. Você se identifica com algo que você não é.
Lembre-se, você é o Todo. E este não é condicionado. A vaquinha se achava condicionada à corda, mas ela era apenas uma ilusão...
Vamos despertar!!!
Texto extraído de uma aula de Swami Dayananda Saraswati, Rishikesh, março de 2009
domingo, 3 de outubro de 2010
Yoga paliativo ou Yoga como essência?
O Yoga dentro do seu contexto original é “classificado” como um darshana, ou seja, um ponto de vista, uma maneira de conduzir a vida através de um código de disciplina e certas regras.
Conduzir uma vida, compreendendo isso no seu aspecto total e não apenas em determinados segmentos.O que vemos no yoga atual é sempre isso. Uma aproximação segmentada.
Pratica-se para resolver “problemas” como força, flexibilidade, disfunções da coluna, problemas respiratórios, estresse...e por aí vamos.
Não que as práticas físicas de yoga não sirvam para isso. Aliás, servem muito bem. Mas percebo, nesta visão, um yoga paliativo e não um yoga como ele realmente é.
Não consigo encontrar nos shastras passagens que discorram sobre a cura da asma ou das hérnias de disco como metas da prática, da vida de yoga.
A visão de textos importantíssimos para um estudante de yoga, como a Gita ou as Upanishads, não passam nem perto disso.
E se o estudante, mesmo assim, não for muito “fã” destes textos de Vedanta, podemos ir mais para o lado das práticas e literatura tântrica.
Podemos pesquisar no Hatha Yoga Pradipika, na Shiva Samhita, ou Gheranda Samhita...não vamos encontrar isso.
A prática, nestes textos, com certeza é muito mais voltada para o aspecto físico, mas nem por isso, entra em detalhes tão mínimos, e em minha opinião tão insignificantes quanto os que têm sido abordados pela maior parte da mídia e alguns professores.
Nestes textos fala-se, sim, de criar um corpo forte e saudável. Um corpo divino ou um corpo de diamante.
Mas existe aí, um objetivo maior: “vencer a morte”.
Vencer a morte pode ser encarado de duas formas:
No caso físico, significa prolongar o tempo de nossas vidas neste corpo que possuímos para que nossa experiência, prática e estudo sejam mais longos. Que tenhamos mais tempo para conhecermos a nós mesmos. Mas não o conhecimento pessoal como indivíduos limitados, mas como somos em essência, livres e plenos.
O que nos leva ao segundo aspecto da vitória sobre a morte, que significa a vitória sobre a ignorância.
A Gita fala sobre isso: “Satyam evam jayati”. A conquista da verdade.
Conquistar a verdade é colocar em prática um conceito muito pouco falado nas práticas de yoga hoje em dia: svadhyaya. A contemplação de si mesmo.
Afinal de contas, quando sentamos em uma postura meditativa e nos propomos uma prática de yoga, a investigação começa. O que estamos fazendo ali?
Se você não souber responder esta pergunta, com certeza ainda tomará algumas “doses” de uns remedinhos chamados ásana ou pranayama.
Talvez você melhore a condição de sua bronquite. Talvez você sinta um alívio nas dores nas costas. Talvez você se ache o máximo porque agora teu trikonásana está bem alinhadinho ou consiga ficar de cabeça para baixo, sem ao menos ter aprendido a necessidade disso.
Mas aos olhos do yoga de verdade, você continua sendo a mesma pessoa. Ainda perdida em seus questionamentos, desejos e objetivos.
Apenas arranhando a superfície da vida de yoga.
Deixando de lado o “problema fundamental”, que é atma vichara, o questionamento sobre aquilo que somos, e que quando é realizado, é realmente aquilo que nos traz conforto: Moksha, a liberdade.
Como disse Pedro Kupfer: “O yoga é como uma grande árvore que generosamente nos oferece seus frutos. Alguns de nós contentam-se em colher os frutos dos galhos mais baixos. Outros se aplicam à disciplina e colherão os frutos mais raros e mais maduros dos galhos mais altos.”
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