sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Inspire, Expire. Mas jamais pense em roubar a nossa tradição do Yoga.
Índia adota postura rígida em relação às origens do Yoga / O governo pretende estabelecer regras em relação às práticas.
Journal The Guardian - News
8 de Junho de 2010
Por Jason Burke, Delhi.
Você é Power, Nude (Yoga Nú), da Risada, Cristã ou Contemporâneo? Ou talvez, você seja puro Ashtanga Vinyasa Yoga? Se o seu estilo de Yoga preferido está entre os anteriores você poderia se achar do lado errado na tentativa de definir o que constitui a milenar disciplina física e mental que é o Yoga.
O governo indiano na tarefa de proteger a rica herança do país da medicina e prática começou a filmar centenas de ásanas - posturas de Yoga - na tentativa de tornar o sistema mais rígido fora deste mais flexível quadro de práticas meditativas.
A intenção desses “vídeos” é prover evidência irrefutável para qualquer um que tente patentear um novo estilo de Yoga que já tenham sido criado pelos indianos. O esforço anterior de definir o Yoga baseado simplesmente nas traduções de textos antigos trouxe resultados, portanto, agora eles estão tentando novamente.
"É como futebol e Grã-Bretanha”, disse Suneel Singh, um dos maiores gurus de Yoga da Índia. “Você tem dado isso ao mundo, o que é maravilhoso e generoso. Mas imagine se as pessoas começarem a dizer que eles inventaram esse esporte. Isso seria irritante”.
Dr. Vinod Kumar Gupta, que lidera a Biblioteca Digital de Conhecimento Tradicional, uma organização governamental que tem a sua base em Delhi estabelecida pelos ministérios da saúde e ciência, disse ao The Guardian: “Um simples texto não é adequado. As pessoas estão reivindicando que estão fazendo algo diferente do Yoga original quando eles não estão”.
“O Yoga se originou na Índia. As pessoas não podem reivindicar a invenção de um novo Yoga quando eles não o fizeram”.
A campanha para proteger essa rica tradição indiana da arte medicinal, artesanal e prática já contabilizou grandes vitórias forçando companhias européias a reverter patentes no uso de extrato de melão, gengibre, cominho, açafrão e cebolas para a cadeia de produtos naturais. Em cada caso, oficiais do governo indiano foram capazes de vasculhar na nova biblioteca digital para submeter cuidadosamente as traduções de trechos de livros médicos originados do século XIX à manuais da tradicional medicina ayurvédica do século V para sustentar suas afirmações.
Mas tentando combater o Yoga de ser “indevidamente utilizado” é diferente de defender as plantas indianas contra a “bio-prospecção” para remédios naturais por companhias estrangeiras. Existem dezenas - senão centenas - de milhões de praticantes e centenas de diferentes gamas de escolas desde Naked Yoga (Yoga Nú) até Yoga Cristã, desenvolvidos em escolas de fé e igrejas na América.
“Não há a intenção de que as pessoas parem de praticar Yoga mas ninguém deve se apropriar do Yoga e começar a cobrar dinheiro de franquia”, disse Gupta, que como muitos residentes em Delhi pratica a arte antiga num parque perto de sua casa. “Quanto ao Hot Yoga, Power Yoga, ou o que quer que seja não tenho nada a comentar. Nosso trabalho é mostrar a evidência e deixar que os outros decidam”.
A campanha para preservar o Yoga como indiano tem suas raízes na tentativa feita há alguns anos atrás pelo Bikram Choudhury, o auto-proclamado “professor de Yoga das estrelas de Hollywood” para conseguir patentear seu Bikram Yoga nos USA.
“Eles estão criando marcas”, disse Guru Singh, tendo ele mesmo inventado o que ele chama de “Yoga Urbano”. “De qualquer maneira, batendo palmas, rindo, todas essas coisas, todas elas existiam antes. Eles simplesmente deram um novo nome em inglês”.
Mesmo na Índia os yoguis e yoguinis (variante feminina) estão divididos.
Os conservadores dizem que somente o Yoga descrito nos textos como Hatha Yoga Pradipika, manual compilado por um sábio do século XV, é a verdadeira tradição.
Mas uma nova geração deseja algo mais. Guru Mohan, 31 anos, dirige um curso para jovens profissionais indianos que trabalham em companhias de tecnologia na grande cidade satélite de Noida ao redor de Delhi.
“O estilo de vida era diferente há 2 mil anos atrás. Haviam necessidades diferentes. Naquela época eles praticavam Yoga em selvas e rios. De acordo com os textos se usava estrume de vaca para limpar o local onde você iria praticar. Isso não é mais apropriado nem mesmo na Índia”, diz Mohan que usa esse nome profissionalmente.
De acordo com Mohan, que foi o pioneiro do que ele chama “Call Center Yoga” com ásanas especiais para aqueles que passam horas atendendo telefones, algumas coisas, no entanto, são eternas.
“Yoga está aí para toda humanidade. É para servir as pessoas”, diz o guru. É uma sabedoria tradiocional e seu alcance nunca deve ser limitado”.
Esticando os Limites
Cinco ásanas – posturas de Yoga – as quais o governo indiano está tentando proteger por lei.
1. Torção de Coluna
Ajuda os praticantes a liberar e deixar seus corpos mais flexíveis e fortes.
2. Ângulo Duplo (prasarita padottanásana)
Usado para estimular a glândula timo e ao mesmo tempo o sistema imune. Os praticantes de Yoga dizem que esta postura pode ajudar a conectar com o centro espiritual.
3. Saudação ao Sol
São 12 posturas que fluem numa sequência e que formam os doze meses do ano. Uma boa maneira de estender e flexionar o corpo - mas também um série de movimentos preparatórios para a meditação.
4. Postura do Lótus
Mantém o praticante firme e estável com a coluna ereta tornando uma postura ideal para a meditação.
5. Postura do Peixe
Abre o coração e conecta o praticante com a glândula timo.
Opinião de um perito
“Parece tolice eles quererem patentear o Yoga”
As 64.000 posturas formam apenas uma minúscula parte do Yoga. As posturas não são o fim em si mesmas, mas a preparação para aprofundar ainda mais, com mais práticas significativas.
As posturas não são a definição de Yoga, o qual consiste em práticas respiratórias, relaxamento profundo, e práticas meditativas – não somente posturas.
Eu daria a qualquer pessoa que tentasse patentear quaisquer posturas um amplo apoio. Eles não inventaram nada. As práticas e as tradições do Yoga remontam milhares de anos. Ou melhor, nós somos interpretes de uma sabedoria antiga.
Patenteando e filmando posturas específicas é angustiante. O Yoga é um imenso corpo de conhecimento e prática, e você não pode patentear uma tal entidade, deixar à parte uma porcentagem muito pequena dela.
Tampouco ele é uma preservação somente da Índia. Estátuas e posturas retratando práticas de Yoga foram descobertas ao redor do mundo. Na Colômbia, existem estátuas de pessoas sentadas em posição de Yoga, e adotando práticas de respiração e meditação, deste modo o Yoga é mais difundido no exterior do que somente na Índia e parece absolutamente tolice que eles queiram patenteá-lo.
Swami Pragyamurti Saraswati foi diretor do Satyananda Yoga Center em Londres por mais de 30 anos. Entrevista feita por Patrick Kingsley.
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